Ainda há 15 famílias abrigadas no ginásio Azulão

O recuo das águas do Caí possibilitou o retorno de algumas pessoas para casa, mas a maioria ainda precisa ficar no local

As águas do Rio Caí começaram a recuar lentamente no final de semana, e algumas famílias já puderam deixar o ginásio Azulão, no Parque Centenário, onde estavam abrigadas devido a enchente. Do total de 20, no entanto, 15 ainda estão no local, totalizando 40 pessoas. O coordenador da Defesa Civil, Marcelo Silva, afirma que hoje mais algumas já poderão retornar para casa, mas aquelas que moram em locais mais alagados deverão ficar no ginásio até quinta-feira.

João Carlos e Rosângela precisam de produtos de higiene pessoal e cobertores

Muitas dessas pessoas que foram deslocadas precisam enfrentar essa situação há anos, por residirem em área de enchente, como é o caso de Adriana Pinheiro, 46 anos. “Moro há 58 anos no bairro Industrial. Diversas vezes precisamos sair de casa por causa das cheias. Antigamente éramos acolhidos no almoxarifado da Prefeitura, e depois no Caritas, na Igreja”, relembra.

Desta vez, ela veio acompanhada dos dois filhos adolescentes de 13 e 15 anos. “Passou uma moto na rua, quinta-feira, anunciando a enchente. Por esse aviso prévio podemos levantar as coisas dentro de casa. Graças a Deus nunca perdemos nada, mas já somos bem vividos dessa situação”, agradece Adriana.

Juntamente com ela e os filhos, foram apenas as ‘miudezas’para o Ginásio. “Colchão e cobertas foram cedidas. Eu trouxe uma mala com casacos e meias para as crianças. Na última vez que precisamos vir para cá, passamos muito frio”, explica aflita.

Para dormir, cada integrante da família ganhou um colchão de solteiro, porém, os cobertores doados ainda não eram suficientes para aquecer os três, que dormiram próximos para espantar o frio. “Os meus filhos adoram quando dá enchente. Eu entendo, porque também gostava quando era criança. Mas eles não sabem o prejuízo que dá. Minha neta quando veio na quinta, de tão feliz, parecia que estava indo para a Disney”, brinca.
Adriana diz que o acolhimento no local é muito bom. Inclusive a cadelinha Bolinha pode ir junto e se instalar com a família.

Celeste e os dois filhos Daniela e Miguel precisaram sair de casa

Histórias que se repetem: terceira vez fora de casa
Celeste de Oliveira, 33 anos, é vizinha da família de Adriana. Moradora do bairro Industrial há 21 anos, desde que chegou em Montenegro de Porto Alegre, essa é a terceira vez que precisou sair de casa por conta das cheias. “Vim com meus pequenos de 7 e 9 anos. Não tenho problema em ficar aqui. Ajudo no que posso as outras pessoas na minha passagem pelo Ginásio. E verdade tem que ser dita, somos muito bem tratados”, enfatiza.

Sem problemas de relacionamentos, ela diz que só fica chateada quando chegam as doações e alguns querem pegar mais do que realmente precisam. “Eu não peço. Mas qualquer doação é sempre bem-vinda. Um dos meus filhos gêmeos, de 17 anos, não está podendo ir para a aula há alguns dias porque não tem roupas de inverno”, queixa-se.

Na enchente de outubro, ela afirma que perdeu fogão e colchão e como não conseguiu nenhum outro teve que secar para continuar usando. Por conta de todo este desgaste sempre que o rio transborda, e por outras questões pessoais Celeste pretende, ainda este ano, mudar-se para o bairro Santo Antônio.

Em constante reconstrução
João Carlos de Azevedo Garcia, 57 anos e a esposa Rosângela de Lurdes Pereira Garcia, 49, sempre enfrentam situações de calamidade quando o Rio Caí despeja, por não terem condições de mudarem o endereço. Eles estão sempre juntos, há 31 anos, enfrentando os percalços.

Seu desejo é conseguir uma casa em algum programa de habitação popular. “Qualquer terreninho, em qualquer lugar longe das cheias seria ótimo. Para construir, damos um jeito”, conclui.

Como a esposa está enfrentando um tratamento para a depressão e ele está sem conseguir emprego há muito tempo, o deslocamento para o Azulão é apenas uma das adversidades enfrentadas pela família, diariamente. Com lágrimas nos olhos, João afirma que seu problema de visão e audição atrapalha na hora de conseguir um emprego em seu ofício, pedreiro.

“Ninguém quer dar emprego para pessoas com limitações como as minhas. Estou vivendo de bicos. De vez em quando aparece algum por meio dos conhecidos. É difícil se manter, ainda mais que os remédios para o tratamento da Rosângela estão em falta na farmácia da Assistência. Aí com a enchente complica tudo”, relata.

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