Um caso de extrema violência ocorrido nesta semana teve repercussão nacional e trouxe novamente à tona o debate sobre a violência contra professores. A docente de Língua Portuguesa e Literatura Marcia Friggi, 52 anos, foi agredida por um aluno de 15 anos após mandá-lo para a direção por mau comportamento. O fato aconteceu na Escola Prefeito Germano Brandes Junior, em Indaial, interior de Santa Catarina. Marcia teve o rosto golpeado e precisou levar pontos.
“Estou dilacerada por ter sido agredida fisicamente. Estou dilacerada por saber que não sou a única, talvez não seja a última. Estou dilacerada por já ter sofrido agressão verbal, por ver meus colegas sofrerem. Estou dilacerada porque me sinto em desamparo, como estão desamparados todos os professores brasileiros”, compartilhou a professora em seu Facebook.
Agressões diárias, físicas e psicológicas, infelizmente fazem parte do cenário educacional do Brasil e só quem atua na área sabe o quanto pode ser difícil. lidar com essa ameaça Diversos professores, inclusive, se afastam das salas de aula por cansaço, desânimo e esgotamento. E esses são apenas alguns sintomas de uma doença psicológica muito conhecida no meio, a Burnout.
Estresse e sensação de fracasso profissional são outras características desta enfermidade, que acomete profissões com demanda emocional alta e interações intensas, como a docência, de acordo com o Portal do Professor, do Ministério da Educação.
Dados de violência no Estado
Em relação aos dados de violência nas escolas gaúchas, um levantamento realizado semestralmente pela Secretaria Estadual de Educação apontou que, em comparação ao segundo semestre do ano passado, o primeiro período de 2017 apresentou uma redução nos casos de violência nas instituições de ensino, representando uma queda de apenas 4,96%.
Nesta investigação, o número de agressão verbal aos servidores, no mesmo período de comparação, cresceu: de 7.185 no segundo semestre de 2016, para 7.270 no primeiro período desse ano. A violência física entre alunos também aumentou, de 6.821 para 7.340.
Casos em Montenegro seriam “isolados”
Em Montenegro, os casos são isolados, ou não chegam ao conhecimento das autoridades. A diretora do 5º núcleo do Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul (Cpers), Marilú Gomes Souza, afirma que existem profissionais enfrentando problemas desse tipo, mas poucos acabam sendo realmente denunciados. “Mas a gente sabe que existe”, diz.
Marilú explica que, em 2015, um estudo foi realizado pelo Cpers em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com cartilha publicada ano passado, que retrata diversas temáticas que envolvem a profissão no Estado. “Na questão da saúde do professor, houve um apontamento muito grave na pesquisa. Questões financeiras, de estresse, indisciplina do aluno, a educação moral deles, que é aquela trazida de casa, tudo isso afeta diretamente o ofício, atualmente”, explica.
A pesquisa foi realizada através de entrevistas com professores e estudantes, conforme ela destaca. “Apesar disso, há bons profissionais vencendo os obstáculos e realizando um ótimo trabalho dentro das instituições”, salienta Marilú.
Outro agravante na situação da classe, de acordo com a diretora, é a falta de perspectivas frente à desvalorização pelo Estado. “Hoje realmente há dificuldades dentro das escolas. O desinteresse dos alunos e a falta de respeito. Assim como em Santa Catarina esse, infelizmente, é o cenário educacional do país. Mas sabemos que é uma nova era, em que a escola precisa se adaptar para resgatar seus alunos. Precisa um enfrentamento com outra abordagem, de uma forma carinhosa e afetiva”, conclui.