Aleitamento é capaz de reduzir em 13% a mortalidade infantil em crianças menores de cinco anos
Com apenas 1 ano de 3 meses, Sarah Flores da Silva sabe bem o que precisa para viver saudável, alimentada e feliz da vida. Ela passa o dia na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Santo Antônio e, quando chega em casa, é no peito da mãe que encontra o que deseja. Daniela Oliveira Flores da Silva, de 25 anos, também está de chegada, após um dia de trabalho como telefonista do Hospital Montenegro (HM), mas, o cansaço não serve de desculpa. Oferecer uma mamadeira seria mais fácil. Porém, Daniela sabe que nem sempre o mais fácil é o melhor. Sarah fica na escolinha das 7h às 18h e, logo cedo da manhã, e no final da tarde, mama no peito.
O início do aleitamento de Sarah não foi fácil. A mãe conta que planejava amamentar, mas quando a filha nasceu ela descobriu que ser mãe às vezes traz complicações inesperadas. Ainda hospitalizada, mesmo com a ajuda das enfermeiras, o leite não descia. Daniela e Sarah tiveram alta e deixaram o HM levando para casa uma receita da fórmula que ela devia dar ao bebê, já que “não tinha leite”. Porém, em casa, com a ajuda de uma tia e receitas bem caseiras, acompanhadas de paciência, o leite desceu. “Demorou uma semana. Eu achei que não ia conseguir amamentar, mas deu certo”, conta ela citando que o chazinho – neste caso de tia, não de vó – e ajuda de uma bombinha funcionaram.
O tempo passou e Sarah não deu nenhum sinal de querer “mudar o cardápio”, ao contrário, é muito pegada à mãe. Além da licença, Daniela aproveitou seu período de férias para poder passar mais tempo com a bebê e, graças à ajuda familiar, Sarah só foi para a escolinha com nove meses, quando já tinha a sua alimentação complementada com outros alimentos além do leite materno. Mas quando a mãe está por perto, ela prefere é o leite do peito. “É sempre assim, quando chega já quer mamar no peito”, conta a mãe, enquanto a pequena mama. Mas quando será a hora de cortar esse vínculo? Daniela não sabe. “Quando ela tiver 1 ano e meio, não… é pouco ainda, não sei. Eu quero parar porque exige muito, mas tenho receio de negar. E acredito que ela terá benefícios na saúde por ter mamado mais”, conta a mãe, orgulhosa pela filha ser saudável.
Entrevista com a nutricionista Cíntia Rohr
Jornal Ibiá: No que o leite materno se diferencia dos substitutos, sejam as fórmulas para bebês ou o leite de caixinhas?
Cíntia: Leite materno é o mais completo em questão de nutrientes. Possui fácil digestibilidade, não sobrecarregando o sistema digestivo do bebê. É completo até o sexto mês de vida com todas as necessidades nutricionais, incluindo proteínas, lipídeos, carboidratos, vitaminas e água. Tem a praticidade de não precisar ferver, misturar, coar, dissolver ou esfriar, está pronto e na temperatura adequada no momento que o bebê sentir fome.
Ibiá: Como a gestante deve se alimentar no que diz respeito à preparação para o aleitamento?
Cíntia: Da forma mais saudável possível, com alimentação variada e balanceada incluindo frutas, legumes, carnes, peixes, oleaginosas (castanhas, nozes), frutas secas, muita água mineral ou filtrada, evitando excesso de cafeína como chocolate, chimarrão, café preto, refrigerante do tipo cola. Bebida alcoólica e cigarro não podem ser utilizados de forma alguma, pois podem trazer complicações na formação do feto. O ideal é não utilizar também na amamentação, pois pode prejudicar o desenvolvimento do bebê.
Ibiá: Como as lactantes devem se alimentar?
Cíntia: A mãe que amamenta deve se alimentar de forma saudável, com muito líquido, muita água entre uma mamada e outra, e inclusive, durante a mamada, frutas e verduras com muita água como cítricos, sopas, sucos de frutas, sementes, grãos, leguminosas como feijões, lentilha, ervilha. Ótima opção de gordura boa é o coco e abacate que irá fornecer energia para mãe.
Ibiá: Existem casos em que as mamães julgam que seu leite é fraco ou que, dependendo dos meses do bebê, é necessário complementar. Quando é correto oferecer ao bebê alimentos além do leite materno?
Cíntia: Conforme dados científicos não existe leite fraco, mas sim pode existir produção em menor quantidade, nestes casos conforme orientação de pediatra ou nutricionista poderá ser complementado com as fórmulas disponíveis no mercado. Sendo que estas fórmulas possuem nutrientes isolados onde mais se aproximam do leite materno, porém sempre serão uma segunda opção. Entre fórmula e leite de caixinha, o primeiro é o mais nutritivo, pois na caixinha muitas vezes há adicionantes e produtos que não são tão saudáveis. Até um ano de vida do bebê o ideal seria consumir o leite materno ou fórmulas lácteas devido à melhor digestibilidade de ambos.
Ibiá: Como nutricionista e mãe, você tem alguma orientação para as gestantes que desejam amamentar?
Cíntia: É bom lembrar que a lactante, sempre que possível e o bebê permitir, precisa descansar, nem que seja deitar por alguns minutos para auxiliar na produção do alimento mais precioso e que previne contra inúmeras doenças.
Amamentação salva vidas
Histórias como a de Daniela e Sarah não são tão comuns quanto deveriam. É que por diversas razões, muitas mulheres acabam não aleitando seus bebês ou o fazem por tempo considerado baixo. E isso tem muita relação com a saúde das crianças. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de seis milhões de crianças são salvas a cada ano com o aumento das taxas de amamentação exclusiva até o sexto mês de vida. O ato de amamentar é capaz de reduzir em 13% a mortalidade infantil em crianças menores de cinco anos.
É por isto que existe o Agosto Dourado. Para conscientizar as mulheres de que, mesmo não sendo fácil, a escolha pela amamentação é sempre a melhor. A nutricionista – e também mamãe – Cíntia Rohr destaca que o leite materno é produzido pelo estímulo da sucção, ou seja, quanto mais o bebê é colocado no peito mais leite é produzido. “Há casos que a mãe não consegue amamentar por diversos motivos, mas sempre que possível o aleitamento deve ser incentivado. Falo, por experiência própria, que o primeiro mês de vida do bebê é bastante cansativo, onde a amamentação está em processo de adaptação. Mas não é motivo para desistir de oferecer ao bebê o melhor e mais saudável alimento”, diz Cíntia, que defende a oferta em demanda livre, sem estipular a hora das mamadas.
A Sociedade Brasileira de Pediatria é uma das instituições que apoiam a ação. Em nota assinada pela médica Luciana Rodrigues da Silva, presidente da instituição, destaca a necessidade de uma reflexão junto aos profissionais da pediatria sobre o incentivo à amamentação. “O que você tem feito para fortalecer o aleitamento na sua rotina profissional, dentro e fora dos consultórios?”, provoca a nota. “Cabe ao pediatra tirar dúvidas, incentivar a mãe, estimular a participação do pai – inclusive nas consultas, desde o pré-natal – e apoiar a família com informação, orientação e cuidado. Pediatras, exerçam o seu protagonismo e fortaleçam a amamentação”, completa a nota a nota pública.
Dicas para ajudar na hora da amamentação:
– Prepare-se para a hora de amamentar. Escolha um local calmo. Esteja relaxada e saiba que, se a mamãe estiver estressada o bebê sente a tensão.
– Atenção com à pega. O sucesso da amamentação está relacionado à pega correta. Para isso, o bebê deve ter o corpo voltado ao da mãe, barriga com barriga, a cabeça em posição mais elevada que o bumbum, na altura do seio da mãe, lábios bem para fora, como queixo próximo da mama, bochechas bem redondas, abocanhando o máximo da aréola que ele conseguir. Nunca deixe-o abocanhar só o bico.
– Dor não é normal. Ela é mais um sinal de pega incorreta. Mude de posição e lembre-se de sempre trazer o bebê até o seio, nunca o contrário.
– Atenção ao mamilo rachado ou machucado. Isso é sinal de que o bebê não está mamando do jeito certo. Nesse caso, geralmente o bebê posiciona a língua no mamilo. O leite não sai adequadamente e, além de aparecerem lesões, na maioria das vezes a criança não ganha peso. Não há necessidade de interromper o aleitamento, apenas mude a posição do bebê. Para ajudar na cicatrização, o melhor é passar o próprio leite materno nos mamilos, várias vezes ao dia.
– Beba água. Nunca se esqueça da garrafa de água quando for dar de mamar. A sede acontece porque o corpo precisa repor todo o líquido que perde durante a amamentação.
– Descanse. Sempre e o máximo que puder entre as mamadas. Amamentação cansa física e emocionalmente e oferecer descanso ao corpo não é ser uma mãe menos dedicada ao filho.
– Aproveite os excessos. Há mulheres que tem “sobra de leite”. Aproveite essa produção excessiva estocar leite para os momentos em que você não estiver em casa. Quem tem bancos de leite próximos também pode doar para aqueles bebês que necessitam.
– Só um seio não. Isso é dica das avós e merece atenção. Há bebês que rejeitam um seio e querem mamar só no outro. É uma preferência por determinada posição para mamar. Nestes casos, é melhor inverter o lado, sem mexer na posição da cabeça do bebê. Por exemplo, se ele mama muito bem no seio direito e tem rejeição pelo esquerdo, basta colocá-lo no mamilo esquerdo, como corpo abaixo do seu braço esquerdo.
– A hora de voltar ao trabalho. Geralmente esse é o momento em que muitos bebês deixam de ser aleitados no peito. Não é fácil, mas vale o esforço de continuar. Faça estoque do leite e oriente a pessoa que for cuidar do seu filho a dar no copinho. A mamadeira fará com que ele perca o interesse no peito.
– Ofereça o peito. Se você tem leite e o bebê ainda quer mamar mesmo já recebendo outros alimentos, ofereça o alimento materno.