Energia alternativa. O combustível gerado pela Ecocitrus e Naturovos deverá ser comprado pela Sulgás em breve
Demorou, demorou, mas tudo indica que agora vai deslanchar. A chamada pública da Companhia de Gás do Rio Grande do Sul (Sulgás) para compra de biometano deve ser publicada nas próximas semanas, o que permitirá ao Consórcio Verde Brasil — uma iniciativa da cooperativa Ecocitrus e da empresa Naturovos — a comercialização do gás que produz em sua usina em Passo da Serra, zona rural de Montenegro. A estatal havia anunciado ainda
em 2015 um edital para compra do combustível, mas o processo foi postergado porque as usinas não estariam totalmente aptas a fornecer o GNVerde em volume suficiente. No ano passado, também havia expectativa de uma nova chamada, que acabou não se confirmando.
Gerar renda com o combustível alternativo é a maior preocupação da Ecocitrus e Naturovos, porque desde 2013 ele é usado com sucesso no abastecimento de veículos da frota própria e dos associados. Entretanto, questões burocráticas adiam esse projeto, de se obter uma nova fonte de renda, e até congelam novos investimentos na planta. No ano passado, a direção da Ecocitrus relatou que o objetivo é ampliar a capacidade de produção da usina, mas para isso é preciso que o Estado compre o produto.
Procurado pelo Ibiá para comentar o assunto, o vice-presidente da Ecocitrus, Ernesto Kasper, destacou que “tudo continua na mesma situação”, mas preferiu não entrar em detalhes. Disse que, no fim de janeiro, o presidente da cooperativa, Ademar Henz, esteve em reunião com a companhia de gás para apresentação dos principais termos e condições da chamada pública. “A reunião foi proposta pela área técnica da Sulgás para conversar com todos os envolvidos no biometano, pois para atender bem a chamada pública poderiam ser feitos ajustes, conforme conhecimento de cada empreendimento”, afirma.
Em nota, a estatal relata que convidou “potenciais interessados” em lhe fornecer biometano para “reuniões informativas” entre 26 a 31 de janeiro. “Tomamos essa decisão considerando o grau de inovação e de complexidade presentes em um empreendimento de produção de biometano em escala comercial, visto que se trata de algo novo no país”, esclarece o diretor presidente da Sulgás, Claudemir Bragagnolo.
O objetivo da companhia é a aquisição de até 200 mil metros cúbicos por dia de biometano, mas em diferentes regiões do Rio Grande do Sul, para viabilizar a distribuição a clientes que demandam gás natural, mas atualmente estão distantes da rede de distribuição.
O Número
As agroindústrias do Vale do Caí geram anualmente em torno de 209 mil toneladas, o que faz com o que a região seja o terceiro maior gerador de biomassas agroindustriais do Rio Grande do Sul.
Produto estimula o desenvolvimento regional
O gás natural é produzido a partir de resíduos agrícolas e pastoris, como dejetos de avicultura e citricultura, uma matéria abundante nas operações da Ecocitrus e da Naturovos. O GNVerde, marca registrada pela Sulgás para o biometano que será ofertado para o mercado gaúcho, possui as mesmas aplicações do gás natural de origem fóssil e se constitui em uma nova alternativa de combustível para indústrias, comércios, residências e postos de combustíveis.
“Além de contribuir com o meio ambiente, dando um destino nobre para os resíduos provenientes de atividades agrícolas e pastoris, essa iniciativa estimula o desenvolvimento regional e promove a atração de investimentos para o nosso Estado”, afirma Bragagnolo.
As especificações do biometano para fins comerciais foram estabelecidas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) em fevereiro de 2015. Já a política para compra e venda desse combustível no Rio Grande do Sul foi regulamentada em maio de 2016, através da Lei Nº 14.864, que institui o Programa RS-Gás.
“Nós fizemos um levantamento no Estado inteiro e conseguimos visualizar que o Rio Grande do Sul tem potencialidade gigantesca para a produção de biogás, pelas diferentes biomassas que estão sendo geradas no campo”, garante o professor Odorico Konrad, que coordena um importante projeto de pesquisa na área, na Univates, em Lajeado.
Saiba mais
Segundo o Atlas das Biomassas do Rio Grande do Sul, publicado em setembro do ano passado, os resíduos das agroindústrias do Vale do Caí geram anualmente em torno de 209 mil toneladas, o que faz com que a região seja o terceiro maior gerador de biomassas agroindustriais, considerando laticínios e frigoríficos. Desse total, aproximadamente 7,4 mil toneladas são referentes ao processo de abate de bovinos; 38,3 mil toneladas, de suínos; e 164,1 mil toneladas, do abatimento de aves.
Estima-se que 88% da biomassa industrial estimada para o Vale do Caí concentra-se em Montenegro.
O montante de biomassas agroindustriais e de dejetos de animais correspondem a aproximadamente dois milhões de toneladas/ano no Corede Vale do Caí e concentram-se, principalmente, no sudoeste da região. Destacam-se os dejetos de suínos e a geração de biomassa proveniente do abate de suínos e de aves, como sangue, vísceras e lodos das estações de tratamento de efluentes, principalmente
em Montenegro, com 185 mil toneladas.