Técnica. Planejamento considera variáveis de eficiência e preservação ambiental
Antes que uma nova seca castigue os agricultores, a Prefeitura de Montenegro pretende já ter aberto 15 açudes para armazenamento de água em propriedades rurais. Este é um tipo de obra complexa, que requer planejamento e cuidado na execução, muito além de apenas cavar um grande buraco.
Na quinta-feira, dia 25, a escavadeira da empresa contratada pelo Município iniciou o trabalho em meio ao pomar de Alceu Ari Henz, em Santos Reis. Os contemplados foram escolhidos em ação conjunta entre Município e entidades representativas do setor, aprovados pelo colegiado do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural (Comder). A Emater foi articuladora deste processo, e responsável pela escolha dos locais dentro das propriedades, com aval da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. “Jamais pode ser em uma área de preservação ambiental”, salienta o extencionista rural da Emater, Valmir Michels.
Outro fator decisivo é ter ângulo para formar bacia de captação, permitindo reservar água nos períodos de chuva para fazer irrigação no período de restrição hídrica. O açude de Henz fica no topo de uma colina e em terreno em declive, características transformadas em aliadas pelo estudo técnico. A escavação puxou terra no lado mais alto para o mais baixo, subindo uma taipa de 2 metros (m) de altura e crista de 3m. Estes são dois, dos quatro elementos que compõe um açude artificial. Os outros são a vprofundidade e o talude.
Michels reitera que é proibido bombar água de rio, córrego ou vertente para encher um açude. A única exceção à chuva é usar vertente que esteja fora do açude, que pode, inclusive, ser canalizada, desde que a boca não seja abafada ou submersa. Essa é uma vantagem para Henz, que dispõe de nascente com ótima vazão e que corta aqueles seis hectares (h) de pomar. A nascente está mais acima do açude, e o citricultor já planeja armazenar sua água em outros micro-açudes no declive.
Agricultor recorda perdas na seca
Para Henz, a pior estiagem foi entre 2019 e 2020, quando perdeu em torno de 40% de sua safra, especialmente devido à qualidade inferior das frutas. “Ela ficou muito miúda, e não se recuperou mais”, descreve. Já em janeiro deste ano, o pomar foi salvo graças à doação de água de um vizinho piscicultor, que estava esvaziando o açude para retirada dos peixes. Durante cinco dias, Henz puxava água em um tanque de 4.000 litros acoplado ao trator, fazendo um trajeto de 1,5 km.
O produtor do sistema orgânico não tinha açude no lote em Santos Reis, e agora está animado até para iniciar plantio de 5 hectares de feijão, cultura que pede muito de água. Outro plano é instalar sistema de irrigação por gotejamento. E mais uma vez precisará de apoio dos órgãos públicos, para desenvolver e orçar o projeto de captação de recurso pelo Pronaf Investimento. “Sem água tu não faz nada! Na agricultura, em tudo”, declara. Henz é lírico ao declarar que “no campo, a chuva é uma bênção”.
Aberturas têm novo prazo
O trabalho começou pela propriedade de Adão Santos e Silva, na localidade de Fortaleza, mas que precisou ser interrompido devido à instabilidade do solo causada pela umidade excessiva. Segundo o diretor de Desenvolvimento Rural, Pedro de Vargas, os trabalhos dão uma parada neste período de chuvas, e retomam em outubro.
O Município esperava ser contemplado pelo programa estadual “Avançar na Agropecuária e no Desenvolvimento Rural”. Entretanto, diante da demora, decidiu aportar recursos próprios. A única despesa dos beneficiados foi a taxa de R$ 376,00 para emissão de Autorização Ambiental. As horas-máquina são custeadas pelo município, com investimento estimado em R$ 150 mil.
Sobre açudes
O açude na propriedade de Henz tem 20×40 m e volume d’água de 974m³:
Profundidade = 1,5m
Taipa (barreira de contenção) = 2m
Crista (largura no topo da taipa) = 3m
Talude (da crista da taipa até o fundo) = 2,3m