À mercê de criminosos. Criador defende a implementação no Vale do Caí de uma Delegacia de Polícia Especializada na Repressão aos Crimes Rurais
Em um ano, o pecuarista Flávio de Oliveira Senger, de 58 anos, teve 15 bovinos levados de sua propriedade, na localidade da Volta do Anacleto, em Montenegro. O fato vem desestimulado o criador que já pensa em abandonar a atividade da pecuária e se dedicar a outro ramo. Flávio lamenta que a região não disponha de uma delegacia especializada em investigações a esse tipo de crime.
No mês de maio o pecuarista, teve três bois carneados em suas próprias terras. Cerca de 250 quilos de carne foram levadas pelos meliantes. De acordo com Flávio, crimes como este vêm ocorrendo na localidade desde 2007 e a cada ano registra-se aumento no número de ações dos ladrões.
Em novembro do ano passado seis animais foram mortos. Antes disso, outros cinco, dois de Flávio e três de um de seus vizinhos. Ele acredita que por trás das ações exista uma rede de comunicação entre os larápios. “Para entrar de noite em uma propriedade é preciso saber por onde chegar. Eles conhecem o local”, explica.
Flávio destaca também que os ladrões preferem agir nas terças-feiras, além disso, mostram habilidade em reunir o gado para o abate. Ousados, eles invadem as propriedades de carro e carneiam no próprio local do crime. “Estamos à mercê. Não temos para quem recorrer. A Polícia Civil faz a parte dela, mas tem limites que a impedem de agir de forma mais efetiva”, comenta.
Carlos Barreto, representante da Associação dos Pecuaristas do Vale do Caí, conhece bem o problema enfrentado por Flávio e tantos outros criadores de gado da região. Segundo ele, nos últimos quatro anos, em municípios como Montenegro, Capela de Santana e outras cidades da Região, cerca de 550 reses foram levados por bandidos.
Para Barreto, falta iluminação nas estradas do interior. “A falta de luz facilita a ação dos bandidos. A Brigada Militar e a Polícia Civil ajudam, mas o Município não faz sua parte”, diz Barreto, referindo-se a iluminação pública.
Decrab já é realidade em outras regiões do Estado
Os pecuaristas são favoráveis a implementação de uma Delegacia de Polícia Especializada na Repressão aos Crimes Rurais e de Abigeato (Decrab) no Vale do Caí.
Para Flávio e Carlos o cercamento eletrônico, através de câmeras de vídeomonitoramento, das localidades é uma boa medida para coibir a ação dos meliantes. Contudo, Flávio reconhece que existem dificuldades a serem superadas para a implementação desse tipo de projeto.
A criação de uma Decrab no Vale do Caí é apontada como a solução ideal para resolver esse tipo de situação. “A região tem demanda para ter uma delegacia especializada”, defende o Flávio.
As primeiras delegacias desse segmento foram inauguradas em abril deste ano, nas cidades de Bagé e Santiago. As Decrabs vêm em continuidade ao trabalho realizado pelo Projeto da Força-Tarefa contra os Crimes Rurais e Abigeato, desenvolvido em 2017. Dados da Polícia Civil mostram que no ano passado, os casos de abigeato registram queda de 25,53%. Foram 10.451 ocorrências deste tipo registradas em 2016 e 7.783 em 2017. Esse resultado é atribuído às ações do Projeto da Força-Tarefa.
De acordo com a 1ª Delegacia de Polícia de Montenegro, até o dia 30 de maio, foram registrados dois casos de abigeato na região. Os dados referentes ao ano passado não foram informados, devido a outras demandas do setor responsável pelo levantamento dos números.
Para o coordenador das Decrabs, delegado Cristiano Ritta, a diferença entre a Decrab e a Força-Tarefa é justamente a criação da estrutura administrativa que faltava. “A Força-Tarefa era um órgão temporário, com uma estrutura temporária. Antes se trabalhava com uma equipe na região de Bagé, que era onde estava a Força-Tarefa. Agora com esta outra delegacia em Santiago, a Polícia Civil tem um crescimento para conseguir atender melhor todo o Estado, em conjunto com as outras Delegacias de Polícia”, aponta Ritta.
Contudo, a implementação desse tipo de delegacia não é tão simples.. A escolha das sedes partiu de uma decisão técnica da Chefia da Polícia Civil. As delegacias ficarão subordinadas ao Departamento de Polícia do Interior (DPI) e atuarão, também, a partir da utilização de bases itinerantes nas operações realizadas em todo o Estado.