A preocupação constante de quem mora às margens do Rio Caí

Com o grande volume de água que caiu no último fim de semana, moradores tiveram que redobrar a atenção

No último fim de semana, os cidadãos que residem às margens do Rio Caí voltaram a enfrentar um antigo inimigo: o medo do aumento das águas e suas possíveis consequências. Durante o período de chuva que marcou os últimos dias, diversos montenegrinos não desgrudaram os olhos de um dos cartões postais mais visitados de Montenegro, um hábito que já faz parte da realidade de quem vive na extensão do Cais do Porto das Laranjeiras.

Era início da tarde quando a dona de casa Maria Bretna olhava, da janela de casa, o movimento do rio passando a pouco metros da sua residência. Com 65 anos, ela conta que hoje já não sente mais tanto medo das águas como tinha antigamente, em dias chuvosos. “Com o tempo, a gente vai aprendendo a observar o rio e, assim, tomar as medidas e cuidados necessários”, destaca, afirmando que o rio avisa quando terá enchente ou não.

“Uma das primeiras coisas que temos que saber é como está o nível das águas em São Sebastião do Caí, pois todo esse volume passa por aqui. Depois, os galhos e sujeira que vão descendo são uma forma de comunicação que o rio tem com a gente. É infalível”, revela Maria, que mora há 11 anos na beira do Caí.

Em outro ponto da Cais, a moradora Daiane Grasel, 32, acompanha o cenário de um lugar especial: o sofá da sala, de onde ela analisa com precaução cada movimento do rio através da enorme porta de vidro transparente que privilegia a vista. “Quando começa a chover, todo mundo fica um pouco preocupado, mas não tem muito que fazer. O negócio é ficar atento às orientações da Defesa Civil”, explica Daiane, enquanto olhava para fora. “Pode parecer loucura, mas olha como ele [o rio] fica lindo quando começa a encher”, declara a moradora, que apesar do medo das cheias, é encantada pelas águas do Rio Caí.

No sábado, 5, o nível das águas passou dos 8 metros em São Sebastião do Caí. Na ocasião, a Defesa Civil local informou que a situação estava sob controle, sendo que o rio só sai de sua caixa apenas após os 10 metros e as remoções começam após os 11 metros. Em Montenegro, o rio chegou a 3,62 metros na medição da empresa Tanac, mas as chances de enchentes foram consideradas pequenas pela Defesa Civil. No domingo, 6, as águas começaram a baixar gradativamente.

Para Daiane, todo o sacrifício tem sua recompensa. “Quem mora em Montenegro sabe que esse problema não é o ano todo. Tem as épocas de alerta, geralmente entre os meses de junho, junho setembro e outubro”, observa a moradora. “Já estamos há dois anos sem enchente, e quando isso não acontece é maravilhoso”, comemora a montenegrina, que reside no local há 24 anos e não tem planos de sair.

Independente da casa, as histórias de quem vive às margens do rio se cruzam e revelam uma relação pautada no respeito e limite entre a natureza e o homem. “Eu cresci tomando banho no rio. Ele faz parte da minha história”, relembra a Daiane. “Quando chega o Verão, enquanto pessoas saem de lugares distantes para vir aqui, nós só abrimos a porta e apreciamos essa beleza natural daqui de dentro de casa. Sem contar que esse lugar é bem localizado”, salienta.

Apesar do constante medo das enchentes nos períodos de alerta, Daiane Grasel admira a beleza do rio

Marcas físicas e emocionais das enchentes do Caí
Para a alegria de quem mora no Cais do Porto das Laranjeira, já se vão quase três anos sem enchentes de grandes proporções registradas. Apesar do cenário otimista, para quem já enfrentou esse problema, as lembranças e marcas permanecem na memória. “Infelizmente já aconteceu situações em que perdemos muitas coisas de dentro de casa porque não deu tempo de levantar antes da água chegar”, relembra Daiane Grasel. “Às vezes ela [a água] vem com tudo.”

Na residência da dona Maria Brena, as marcas da água estão registradas por todos os lados. “Por mais que minha casa seja suspensa, a umidade das últimas enchentes deixou tudo manchado”, lamentou a moradora. “Essa é a parte difícil de quem mora aqui: precisar saber lidar com essa preocupação e não se apavorar”, desabafou.

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