Tradição viva. Invernadas de dança para os pequenos são o início de uma trajetória de preservação da cultura gaúcha
Se depender do interesse das crianças, a Cultura Gaúcha ainda seguirá viva por muitos anos. Nos galpões dos centros de Tradições Gaúchas (CTG) as invernadas pré-mirim, mirim e juvenil, as danças, a música e o sapateado são repetidos como forma de não se esquecer de onde veio e para onde deve ir o Rio Grande do Sul. Em Montenegro, todas as entidades regulares junto a 15ª Região Tradicionalista (RT) têm grupos de pequenos dançarinos.
Esse cenário faz Maria Isabel da Silva Von Muhlen, diretora artística da organização tradicionalista, acreditar que ainda existe um forte interesse das crianças pelo tradicionalismo. “Percebo que atualmente com as redes sociais, estamos conseguindo inclusive aumentar este interesse pelo conhecimento de nossa cultura”, revela. A professora comenta que esse empenho nas invernadas mais infantis é emocional. Já nas juvenis, é possível perceber o surgimento da competitividade.
Um interesse de quem vislumbra competições de cunho maior, como, por exemplo, o Enart (Encontro de Artes e Tradição Gaúcha). Maria Isabel faz uma observação pertinente em relação às invernadas pré-mirim, mirim e juvenil, ao apontar que a grande maioria das crianças ingressa levada pelos pais tradicionalistas. Assim, torna-se uma paixão hereditária que cultiva o laço familiar, elemento muito valorizado neste meio.
“Geralmente, integrantes que vem sem influência dos pais, costumam integrar o grupo Adulto, que recebe integrantes a partir dos 15 anos”, revela. Mas também acontece a procura dos menorzinhos sem que sejam filhos de tradicionalistas. Nestes, o interesse é desperto através de ações dos CTG nas escolas. “Com certeza, os trabalhos realizados nas escolas traz bons resultados”, confirma.
A Cultura sai dos galpões
Para cativar jovens, a 15º RT coloca seu Departamento Cultural nos ambientes escolares. A coordenadora destaca, especialmente, ações realizadas por Prendas de faixa e Peões de brasão por intermédio de palestras, gincanas e dinâmicas. Nelas, mostram a história do Movimento Tradicionalista, desde o seu início até a atualidade, culminando em visitas das escolas às entidades.
“Portanto, abrindo as portas dos Centros de Tradições para um público que não costuma habitualmente frequentar estes espaços”, observa Maria Isabel. Os CTGs e DTG regulares em Montenegro são um bom exemplo desta missão. Na última segunda-feira, dia 17, o Estância do Montenegro levou sua invernada à Escola Nossa Senhora Medianeira – Apae.
Após as danças, aconteceu a integração com os alunos, onde os dançarinos ensinaram passos básicos. O mesmo projeto tem o DTG Acácia Negra, que nesta Semana Farroupilha promoveu Mostras Culturais e Atividades Campeiras em educandários.
A crença é de que ver os trabalhos que são feitos com a juventude despertam interesse pela Cultura Gaúcha. “Dançar não é a única forma de difundir a Cultura. Dentro das entidades existe um leque de atividades”, recorda Maria Isabel, citando a declamação, o canto, a música instrumental, e a dança da Chula.
E para aqueles quem não têm interesse em nenhuma destas, os Centros oferecem, ainda, o Departamento Campeiro. Esse abrange atividades mais ligadas ao campo, à lida com cavalo, com gado, e o tiro de laço, por exemplo.
Quando o jovem leva o veterano ao CTG
A diretora artística relata essa busca pelos jovens, todavia, ela é um exemplo raro de inversão de trajetória, pois ingressou no movimento levado pela filha. Críslei Von Muhlen tinha 16 anos quando ingressou na Invernada Adulta do CTG Pelego Branco, de Taquari. Logo, convenceu a mãe e ao pai, Valdir Von Mühlen, a cultivarem a tradição do Gaúcho.
O resultado foi que, cinco anos depois, a menina foi 1ª e 2ª Prenda da Região; o pai chegou a Patrão (2014 a 2017) e Maria Isabel a Diretora Cultural. “Acredito que o Tradicionalismo traz muitos benefícios, pois comunga de interesses comuns aos que nele participam”, avalia. Na sua ótica, o movimento proporciona conhecimento a respeito da história, das raízes do gaúcho, das sementes plantadas no passado.
“Hoje me sinto uma pessoa melhor, me emociono toda vez que consigo passar aos outros um pouquinho daquilo que me faz tão bem”, define Maria Isabel. Ser tradicionalista para mim é sinônimo de doação, de alegria, de emoção.
Invernadas em Montenegro
CTG Estância do Montenegro = 25 bailarinos (8 meninos e 9 meninas na Mirim; 5 meninos e 4 meninas na Pré)
CTG Os Lanceiros = 31 bailarinos (mirim 19 e Juvenil 12 integrantes)
CTG Reminiscências = 22 bailarinos na mirim
DTG Acácia Negra/ mirim e juvenil = 48 bailarinos (Mirim 26 e Juvenil 22)