Iniciada em maio de 2017, a viagem de Júlia da Motta para desbravar os países vizinhos não tem prazo para terminar
O ano de 2017 foi de muitas descobertas e experiências para a bacharel em Políticas Públicas Júlia da Motta, 25 anos. A jovem embarcou em uma jornada pela América do Sul em maio do ano passado e está há mais de nove meses longe de casa. No início, teve a companhia da amiga Rafaela Ely, mas ambas se separaram no trajeto por terem como objetivo destinos diferentes.
Rafaela vai visitar os países da América Central Continental e seguir até o Alasca. “Já passei pelo Uruguai e Argentina, onde ainda ficarei mais um tempo. Pretendo passar ainda pela Bolívia, Chile, Peru e Paraguai, retornando ao Brasil pelas Cataratas”, conta.
Em outro ritmo, até fevereiro, Júlia já passou por dois países e 25 cidades, sendo 19 delas no Uruguai e seis na Argentina. Ela se encantou por por Buenos Aires. Na quarta-feira passada, 14, ela desembarcava em Córdoba, em um trajeto percorrido por 19h de trem. “E ficarei por pelo menos três semanas, até início de março, em um hostel aqui, onde trocarei trabalho por hospedagem. Essa experiência de estar vivendo tudo isso sozinha para mim é nova. Eu sempre tive muito medo de ficar sozinha e a viagem está sendo um aprendizado sobre isso, sobre que consigo me virar e que minha companhia basta”, relata a aventureira.
Mesmo morando sozinha em Montenegro, pagando contas e com responsabilidades a cumprir, Júlia relata que somente agora tem o sentimento de completa independência e liberdade.
Hospedagens e alimentação
Sem hospedagem certa, Júlia tem utilizado de diversas estratégias para instalar-se nos locais por onde passa. “No Uruguai, eu usei muito o couch surfing, que é tipo uma rede social onde as pessoas oferecem as suas casas para quem está viajando poder se hospedar de graça. Pode baixar o aplicativo no celular, de uma forma bem tranquila. E cada dono de residência tem um perfil, com dados de sua casa, e há avaliação de quem já passou por essas moradias” explica.
Para mais de duas semanas em um mesmo destino, ela conta que procura sempre trocar trabalho por hospedagem. “Porque no couch surfing sinto-me como se tivesse incomodando de ficar muito tempo na casa de alguém. Por isso, prefiro da outra forma, fazendo por merecer o meu espaço”, pontua a viajante.
Para alimentação, Júlia prioriza o preparo de suas refeições, sempre buscando por preços mais em conta nos supermercados locais. “Quanto a comer em estabelecimentos, normalmente deixo para ir em algum lugar que quero muito conhecer, ou que muita gente recomendou”, relata.
Culturas diferentes, novas experiências
Não há como percorrer tantos lugares diferentes e não aprender nada pelo caminho. Na bagagem da vida, muitas experiências, novas descobertas e autoconhecimento são acumulados. Júlia partiu em busca de tudo isso e ganhou ainda mais, incluindo novas palavras do vocabulário espanhol. Ao sair de Montenegro, segundo ela, não sabia quase nada na “língua de Cervantes”. “Tem sido um aprendizado gigantesco. E não fiz nenhum cursinho de Espanhol, fui aprendendo escutando mesmo. No início, e ainda agora, apontava para as coisas para saber como se chamavam”, indica.
Encantada particularmente pela vida em Buenos Aires, cidade na qual permaneceu mais tempo do que inicialmente tinha planejado, Júlia destaca a “explosão” cultural que encontrou. “Tem muita vida, muita cultura de graça, e foi o que muito me encantou lá. É uma coisa que eu gostaria muito que a gente tivesse no Brasil”, completa.
Já no Uruguai, o local que mais a impressionou foi o parque nacional Cabo Polonio. “Eles não têm energia elétrica lá; utilizam a solar e a eólica. Troquei trabalho por hospedagem e fiquei em uma casa que não tinha água encanada. Acho que foi a experiência mais enriquecedora que vivi até agora na viagem”, explica.
Todos os registros fotográficos e da peregrinação ela vai divulgando através da página no Facebook Eu Astronauta Lírico.
Riqueza? Só de aventuras e experiências de vida
E quem está pensando que foram gastos rios e mais rios de dinheiro com todo o trajeto percorrido, engana-se. Com muita sede por conhecimento e pouquíssimo recurso no bolso, em 50 dias no Uruguai, Júlia gastou apenas cerca de R$ 650,00.
“Eu viajei pegando carona, então não gastava com transporte. Dentro das cidades, eu fazia as coisas a pé, porque gosto de caminhar. Hospedagem eu também não custeei. Mas já passei por muitos perrengues, fiquei sem dinheiro diversas vezes. Mas sempre dou um jeito”, declara.
Quando os amigos de Júlia resolviam visitá-la, enquanto desbravava a capital argentina, levavam alimentos como café, feijão, farinha de mandioca e leite condensado. “Sempre que estava sem dinheiro, fazia brigadeiros e saía a vender na rua”, explica.
Contando ainda com a boa vontade de pessoas que a hospedaram, como um chileno que deixou seu estoque de comida e duas panelas novas de teflon para Júlia, ela vai seguindo o passeio. “Meu dinheiro acabou, aí eu anunciei em um grupo Brasileiros em Buenos Aires que eu estava vendendo as duas panelas. Consegui uns 300 pesos por elas, que é o dinheiro daqui. Fiquei duas semanas com esse valor para gastar, até que consegui uma vaga em uma agência de turismo e comecei a trabalhar lá”, narra.
E para conseguir se manter, Júlia chegou a ter três empregos ao mesmo tempo: num hostel, na agência de turismo e em tour de bares. “Mas a coisa mais transformadora de toda essa experiência é conhecer pessoas. A cada nova que conheço, elas acabam deixando um pouco delas em mim e isso me transforma, é o maior ganho da viagem”, afirma.
Sem data definida para retorno ao Brasil, Júlia diz que prefere deixar que a jornada a guie de volta ao lar. A jovem ainda ressalta que pretende aplicar todos os conhecimentos obtidos durante a viagem na profissão de Políticas Públicas. “Eu me formei em fevereiro do ano passado, saí do meu trabalho e larguei tudo para viajar. Tirando a saudade, não tem nada que me prenda de volta à minha casa. Estou indo muito pelos meus sentimentos. Estou fazendo conforme sinto que está bom para mim”, conclui.