Integrada. Ampliação vai consolidar a Professora Maria Josepha Alves de Oliveira como centro social
No centro da comunidade de Porto dos Pereira existe um espaço público referência em cidadania e educação. A importância da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Maria Josepha Alves de Oliveira se explica através de sua história centenária e pelos seus projetos que envolvem a família. Então, no ano em que conquista a ampliação que permitirá fechar o ciclo Fundamental, o destaque são os professores, funcionários, alunos e pais.
A diretora Juliane Beatriz Maron recebeu a reportagem no intervalo da aula. Para garantir a folga dos colegas, ela assume a observação do pátio durante o recreio, e enquanto caminhava e orientava as crianças, contou que a instituição completa 119 anos. A primeira sede foi em uma casa de madeira que ficava na área do outro lado da ERS-124, onde iniciou a comunidade em torno do desativado porto fluvial no Rio Caí.
Ao mudar para a Estrada Reynaldo Hoerlle e depois se tornar municipal, assumiu um papel importante. A diretora recorda que há dois anos a escola tinha 80 alunos e cinco professores, para, neste ano, ver sua comunidade escolar ampliar para 148 estudantes e 15 profissionais, entre docentes e servidores. “Em menos de dois anos a escola ampliou de forma significativa”, ressalta. O ciclo se fechará em 2020, com a inauguração das novas salas e implantação do 9º Ano.
Na verdade, limitações estruturais sempre foram problema que, inclusive, impediram que a Maria Josepha fosse de fato um espaço comunitário. Tanto que precisa recorrer à parceria da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes para realizar eventos em seu pavilhão. Já os moradores, têm o espaço da associação comunitária para atividades. “Para o futuro, o sonho da escola é a construção do ginásio. Temos que investir ainda mais.”, defende Juliane.
História da Escola
Segundo o livro Montenegro de Ontem e de Hoje, o educandário foi inaugurado em 1900 pela professora designada Maria Josepha Alves de Oliveira (foto no detalhe ao lado do título) que lecionava em casa. Em 1931, Isaltina Martins de Oliveira (de Mello como solteira) começou a atender em casa alunos do 1º ao 5º. Em 25 de julho de 1959 foi instalada, no endereço atual, ainda como Escola Rural de Porto Pereira. A área de 5.000 m² foi doada por Reynaldo Hoerlle, ex-aluno de dona Maria Josepha. Ainda conforme a pesquisa, teria recebido o nome de sua patrona em 69 e virou em estadual em 79. Em 1981 se tornou a Escola Municipal Professora Maria Josepha Alves de Oliveira.
Futuro será de uma escola aberta à comunidade
Receber um espaço de esportes coberto será fundamental para toda a comunidade de Porto dos Pereira. A ideia é que seja erguido na parte mais elevada do terreno, e que hoje é ocioso. O ginásio consolidará a postura social de “escola aberta”, no qual o melhor alicerce será a participação constante dos pais. Hoje eles já são engajados em projetos educacionais e festivos, além de realizarem manutenção e melhorias em mutirão.
Inclusive, foi um pai que desenhou o novo “jardim de convivência e aprendizado”, surgido em virtude das alterações para a obra. Ele foi apenas um dos envolvidos no projeto, que foi debatido durante reunião do Círculo de Pais e Mestres (CPM). Agora a grande empolgação do grupo é a decoração e equipamentos para as novas salas, que devem ser entregues para o fim deste ano letivo.
Juliane observa que este engajamento tem relação com o fato de muitos terem sido alunos. É a soma de ligação afetiva com a Maria Josepha e dedicação aos filhos. Para ilustrar, mostrou o arvoredo plantando na época destes pais, ao lado do canteiro de hortaliças cultivado pelos estudantes, com ajuda dos pais. “Queremos construir um ambiente bonito”, resume Juliane.
Alunas e amigas da década de 40 contam esta história
A foto histórica dos anos 40 é o único registro em imagem da Escola Rural Porto dos Pereira. Nela estão as irmãs Elaine da Silva, 76 anos, e Enilda Luft Nunes, 81; e sua amiga Deli de Oliveira Griebeler, 79. E dona Deli traz consigo ainda o orgulho de ser filha da professora Isaltina Martins de Oliveira, segunda a assumir o educandário, em 1931.
Ela recordar daqueles dias em que o porto ainda existente no trecho do Rio Caí (perto da Corsan). Navios de carga levavam a produção. Inclusive seu pai embarcava pedras que extraia. Mãe e filha viajavam com frequência a Porto Alegre em busca de produtos e serviços, e Deli lembra do barco de passageiros com cabine individual e cama onde recebia mamadeira feita pelo cozinheiro a bordo.
A Escola funcionava dentro da casa da família, que na época tinha um salão de baile anexo e as carteiras eram dispostas na pista de dança. As amigas não pegaram esta época, vindo a estudar apenas na casa de madeira que o pai de Deli mandou construir na propriedade, especialmente para as aulas. Esta estrutura não existe mais, restando apenas a segunda casa dos Oliveira (na ERS-124). A turma era multiseriada do 1º ao 5º ano, com cerca de 40 alunos. “Ela dividia o quadro. Me lembro bem!”, revela Deli sobre o método de ensino entre 1944 e 1948. Os alunos vinham do Porto dos Pereira e da localidade Água Comprida, hoje bairro Imigração. Não havia ricos, sendo alguns humildes e outros de vida pouco melhor.
Saudade e boas histórias
“Que saudade! Só ficam as lembranças”, suspira Elaine. No pátio brincavam de roda e ovo podre, e os meninos jogavam bola descalços, como é visto na foto. Para ir ao banheiro, que era uma “patente” de madeira sobre um buraco, havia o sistema da régua. Se o instrumento não estivesse na mesa da professora, era porque havia alguém na “casinha”. Não tinha luz elétrica e a água de poço ficava em uma tina de barro.
Apesar da distância, todos iam para a escola a pé. A disciplina era rígida e, na visão das amigas, as matérias mais fáceis. Matemática, por exemplo, era diferente. Inclusive porque todos faziam conta “de cabeça”. “Nem existia calculadora”, lembrou uma delas. Até hoje as amigas se encontram regularmente. Enilda viu a filha Rosângela de Fátima Nunes tornar-se vice-diretora da Escola Maria Josepha.
A mãe de Deli teve uma carreira de mais de 40 anos de magistério, tendo lecionado por inúmeras instituições de ensino; e na sua aposentadoria foi honrada pelos colegas da Maria Josepha com uma placa. A trilha da educação foi seguida por quatro netas. Da foto saíram bancários – como Jacó Alfredo Schmitz e Dalva Jane Lamer – e empresários de destaque em Montenegro, como Toninho Luft.
Para deixar alunos do campo no campo
Atualmente a escola atende alunos de Porto dos Pereira e Imigração, que são a maioria; e Alfama, Centenário e Faxinal. Existe a expectativa de aumento da demanda devido à construção de dois condomínios na região. “Apesar de toda a característica urbana, ela ainda é uma escola rural”, assinala a diretora. Isto garante o transporte escolar gratuito, usado por todos, pois é perigoso caminhar no asfalto sem acostamento.
A secretária Municipal de Educação e Cultura, Rita Carneiro Fleck, lembra que até 2017 a Maria Josepha tinha apenas Anos Iniciais (até o 5º). Quando ingressavam nos Anos Finais (6º ao 9º) eram transferidos à Escola Dr. Walter Belian, no Centenário. Então, em 2018, o atendimento da Maria Josepha foi ampliado aos Finais, evitando a transferência à escola urbana.
“Essa é uma estratégia do Plano Municipal de Educação, que é incentivar a permanência dos alunos em escolas do campo até o final do Ensino Fundamental”, explicou Rita. Para tanto, o Município aumenta a oferta de Anos Finais no zoneamento destes alunos, e ainda garante o atendimento com mais folga o zoneamento urbano. O projeto de ampliação da Escola Maria Josepha está em fase de chamamento das empresas para a licitação.