A cada semáforo fechado, um novo espetáculo

Sorriso estampado na face suada, mãos firmes que seguram bambolê e staff. O tempo de espetáculo é curto para quem assiste e para quem apresenta: apenas 20 segundos. Emoldurado pelo cenário ensolarado, de trânsito apressado, o show é breve, mas bonito, com malabares e bamboleios, representado por quem faz o que ama: os artistas de rua.

Camila Pasa e Felipe Scher, estudantes da Uergs, fazem apresentações de rua de segunda a sábado na Ramiro Barcelos esquina com a Osvaldo Aranha

A cada fechamento de semáforo, uma oportunidade de sorrir se renova. E você, espectador, assiste de camarote, do conforto de seu veículo, a uma expressão artística que o encontra na rua.

Assim, na esquina da rua Ramiro Barcelos com a Osvaldo Aranha, os artistas de rua, estudantes da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), alegram o público de segundas a sábado, geralmente das 11h às 14h.

Camila Pasa, 25 anos, e Felipe Scher, 24, realizam as performances desde janeiro no local, juntamente de outras duas artistas, revezando-se em duplas. Com retorno positivo da comunidade montenegrina, entre olhares curiosos e perguntas, eles afirmam que a troca da rua é muito livre, principalmente por ser um espaço democrático, que não impõe horários para sua exploração.

“No ambiente acadêmico, a arte é validada de forma científica. Na rua, não há essa necessidade. Ela acontece no momento presente”, destaca Camila. Aluna do curso de dança da Uergs e uma das fundadoras do Coletivo Órbita, ela afirma que a arte é um dos pilares para a formação do ser humano, assim como a saúde básica, a educação e a segurança. “É integradora, includente. Integra as linguagens corporais e cognitivas. Promove a sociabilidade, a autonomia e a comunicação. É indispensável na formação humana”, reforça a jovem.

Vindo de Minas Gerais há três anos, e há dois exercitando a arte dos malabares e manipulação de objetos, Felipe destaca as possibilidades individuais proporcionadas pela arte, tanto para o artista quanto para o espectador. “De experimentação, movimento e expressão corporal ou apreciação. As diferentes perspectivas em si. Na rua, é a forma mais espontânea em que isso acontece”, pontua.

Ambos os estudantes utilizam a rua como pesquisa da dança com objetos, laboratório para a graduação em dança. Vivência e aprendizado se complementam. Eles também utilizam, para ensaios, espaços comunitários.

Qual seu papel na Cidade das Artes?
Apesar do retorno positivo em Montenegro, os estudantes destacam que o artista de rua ainda é muito desvalorizado. “Associam com vagabundo, pedinte”, desabafa Felipe.

Para democratizar a manifestação artística em Montenegro, que leva o título de Cidade das Artes, os jovens dão continuidade às apresentações com muita empolgação. No fim, passam o chapéu em busca de contribuições espontâneas. O valor com que o espectador puder contribuir, segundo Camila e Felipe. Aquela moedinha que muitas vezes está negligenciada no carro e que girará no comércio montenegrino após chegar às mãos dos artistas.

“Estamos na cidade que gosta de ostentar o título “das Artes”. Então, nada mais justo do que aproveitar e levar a arte para a rua. Eu sempre digo que esse também é um ato político, que questiona as pessoas se elas estão aceitando a universidade de Arte na comunidade e tudo o que está sendo produzido lá. Qual o apoio dado para a permanência dela na cidade e à produção artística em si?”, questiona Camila.

A incerteza sobre os rumos da Uergs montenegrina, forte debate no município nos últimos meses, e a falta de apoio para sua permanência são algumas críticas trazidas pelos estudantes artistas. “O retorno do trabalho é bem positivo. Só não é melhor e não há mais artistas porque esbarra na falta de apoio. E o nosso compromisso, enquanto artistas de rua, é a formação do nosso público de rua. Ele é tão importante quando o de teatro, se comparados”, conclui Camila.

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