Possibilidade. Assentamento deve ser instalado em uma área no Zootecnia
Após dois anos em Montenegro, povo Kaingang segue dialogando para a busca de um terreno para se fixar no Município. O assentamento indígena localizado no bairro Centenário, ao lado da Emei, já conta com 20 famílias – 74 pessoas – ao todo. Preocupados com o futuro da comunidade, eles aceitaram ir para outro local, mas para isso a mudança tem que ocorrer até o dia 27 de fevereiro, início das aulas no assentamento.
A chegada dos indígenas no bairro Centenário mobilizou os moradores do entorno. Ainda em outubro de 2019 foi realizada uma reunião na Câmara de Vereadores, que contou com a presença das lideranças Kaingangs, dos moradores e também dos representantes do Executivo e Legislativo. Na última terça-feira, 19, um grupo de vizinhos do assentamento, acompanhados do presidente da Câmara Municipal, vereador Juarez Silva, estiveram reunidos com o prefeito Gustavo Zanatta, com o secretário de habitação, desenvolvimento social e cidadania, Luis Fernando Ferreira e com o diretor de habitação, Igor Silvestrin. O assunto nas duas ocasiões foi o mesmo: a remoção dos índios do bairro. Segundo eles, há um choque de cultura entre os moradores e os indígenas, além da higiene que eles consideram precária.
Segundo o cacique, Eliseu Claudino, os indígenas já têm conhecimento que muitos vizinhos estão os difamando nas redes sociais, e não concorda com a atitude. “Nós indígenas estamos respeitando o pessoal aqui, e essas pessoas que estão falando mal de nós têm que ter respeito também, porque nós hoje somos cidadãos de Montenegro”, fala. Ele ainda explica que alguns índios já votam na cidade, e a expectativa é que na próxima eleição sejam mais de 50 eleitores.
Diálogo com o Executivo
Buscando resolver o impasse entre os indígenas e os moradores do entorno, o prefeito Gustavo Zanatta, acompanhado de secretários municipais, esteve no assentamento na tarde da última sexta-feira, 22. Como há um interesse comum na realocação, a Administração está mantendo contato com o governo do Estado, dono da área ocupada, para oferecer a destinação de outro espaço. “Vamos buscar a solução para que fique melhor para todos”, salientou o prefeito.
O cacique, Eliseu, conta que as famílias do assentamento estão aumentando e o espaço onde elas se encontram no momento esta pequeno para comportar a todos. “Também tem outra coisa, as crianças pequenas, muitas vezes sem perceber, atravessam a rua e pra nós é muito perigoso. Eu como cacique estou me preocupando bastante com as crianças”, diz.
De acordo com o secretário de habitação, desenvolvimento social e cidadania, Luis Fernando Ferreira, será agendada uma reunião com o Governo do Estado e a Funai. O Executivo já encaminhou um documento para o Estado com todo o registro dos Kaingangs no Município, o que facilitará na mudança de terreno.
Destino pode ser área no Zootecnia
Também de propriedade do Governo do Estado, o destino do assentamento indígena pode ser uma área ocupada pela Emater, de 93ha no bairro Zootecnia. Em agosto, a Administração passada já sinalizava a possibilidade de mudança, porém a demanda não foi finalizada.
Para Zanatta, o novo local, se for confirmado, será melhor do que o atual. Porém, ele alertou que o novo espaço estará preparado para atender apenas aos indígenas que já vivem atualmente em Montenegro. “O planejamento é que o novo espaço atenda as famílias que estão aqui, respeitando o seu crescimento natural. Não será possível receber mais famílias que venham de fora do município”, avisou.
Eliseu concorda com a decisão do prefeito, porém conta que o limite para a mudança é até o início das aulas no assentamento, que deve ocorrer no final de fevereiro. “Precisamos construir a escola, banheiros e casas”, fala. Todo o material para a construção já foi comprado, e está há meses parado no terreno. Através do Governo Estadual, a escola já tem professor, merendeira e faxineiras garantidos. Até que a obra seja finalizada, a Igreja será ocupada pelos alunos.
Apesar do prazo dado pelos indígenas, a Prefeitura de Montenegro afirma não assumir qualquer compromisso nesse sentido. “A agilidade com que isso ocorrerá não depende do Município, mas a Prefeitura está usando sua estrutura e contatos políticos para que aconteça rapidamente”, informou a assessoria de comunicação.
Venda de artesanatos é escassa
A maior fonte de renda dos Kaingangs é da venda de artesanatos, e segundo Eliseu pouca coisa está saindo neste momento. Alguns índios foram trabalhar na colheita da uva em Caxias do Sul, entretanto ainda é pouco o que se recebe. “Estamos precisando de ajuda, aceitando doações”, fala o cacique. Alimentos, colchões e materiais escolares são bem-vindos.