Claudonir Fernandes Cipriano, O Taísta, faleceu há duas semanas com 78 anos. Taísta era vizinho de nossa casa na 5 de maio. Era um negro alto e com um talento enorme para tocar guitarra. Deixou a esposa, Dona Sônia, as filhas, Tatiane e Andrea, e uma neta. Conta-se que ele foi professor do músico gaúcho e montenegrino Augusto Licks da Banda Engenheiros do Havaí.
Era um daqueles músicos com ouvido absoluto. Tinha pouco estudo, não chegou a completar o primário, mas para música era um virtuose. Você falava, ele dizia a nota. Uma porta batia ele falava: ó… é dó… é dó. Incrível. Um carro buzinava na esquina e ele dizia: Tá em Si bemol sustenido nego…
As músicas da igreja dávamos todas para ele, numa fita cassete, ele cifrava e no domingo já as tocava todinhas. E com solos de guitarra de fazer inveja a Jimy Hendrix. Taista vai fazer falta na Vila. Era um ser do bem, ajudava todos que chegavam até ele. Não tinha maldade, tinha um coração do tamanho do seu talento.
Também era um exímio jogador de canastra. Passávamos madrugadas carteando na casa do meu pai com ele, Cilon Machado e o, também já falecido, Carnaval.
Ele foi por muitos anos zelador do Edifício Fernanda. Quer melhor lugar, para um ser como ele, do que zelador de um condomínio? Era um poço de gentileza ao atender moradores e visitantes.
Taista morreu como todos morrerão um dia. Você caro leitor, também terá este destino. Ninguém vai escapar deste porvir. O homem deveria aceitar mais o fim da existência. E porque não aceita se esta é a única certeza da vida? A resposta é simples: Não fomos criados para a morte. Quando Deus nos criou Ele disse: “Crescei e multiplicai-vos. Subjuguem a Terra, sejam felizes e vivam eternamente”.
Porém escolhemos nos rebelar contra Deus e desobedecer. E passamos a ter, na morte, nosso maior adversário. Este ultimo adversário foi vencido na cruz do Calvário por Cristo. É claro que isso é para aqueles que acreditam e mesmo para quem tem fé, a perda de alguém próximo torna-se motivo de desespero e às vezes tristeza sem volta.
É ainda pior quando o rito normal se inverte e quem deveria ser levado à cova tem que levar alguém como no caso de pais enterrando filhos. A dor torna-se mais dilacerante e não há palavras de conforto que amenizem ou exterminem o imenso vazio no peito de um pai ou de uma mãe. Talvez a melhor homenagem a quem partiu seja continuar vivendo e sendo feliz, se é que isso é possível, depois de uma ruptura deste nível.
A saudade é eterna e só o tempo vai diminuir um pouco o sentimento de vazio, mas nunca esqueceremos aqueles que se foram e que conviveram conosco. E é esta convivência que devemos dar valor, pois será a única coisa que levaremos para o túmulo. Os momentos bons vividos e disfrutados com quem amamos.
Por isso, viva hoje. Abrace hoje. Ame hoje. Perdoe hoje. Se tiver que falar ou fazer algo para alguém faça-o hoje. Não deixe para depois nada que você possa realizar agora, sentimentalmente falando. Podemos nos arrepender de ter dado errado ou não ser correspondido em alguma ação que tomamos, mas jamais de não ter tentado ou não ter falado “eu te amo”, “me perdoe”. “desculpe se te magoei”. “Parabéns”. “Obrigado”.
Você será lembrado pelas suas atitudes, nunca pelos seus bens ou sua conta bancária. As pessoas se lembrarão do seu sorriso, do seu abraço, da sua gentileza. Então abrace, sorria, seja gentil.
Eu não tinha amizade com o Rafinha, mas jamais me esquecerei do seu sorriso e da sua gentileza sempre que ele me atendia na sua empresa. Tal qual o Taista, era um menino do bem e nossas orações, agora, são para que conforte e fortaleça toda família para suportar a dor. A vida ficou um pouco mais triste em Montenegro, farão falta, os dois.