Meu querido e saudoso pai, o véio Álvaro, foi homem de poucas posses e viveu sempre com muita dificuldade, trabalhando até se aposentar da sala de máquinas do Frigorífico Renner. Mas educou seus seis filhos com mão de ferro. Fosse hoje, provavelmente viveríamos no Conselho Tutelar ou em programas Sociais de alguma ONG. Mas nunca reclamei e tenho gravado na memória como os melhores anos da minha existência, mesmo que as dificuldades fossem muito maiores das que vivo hoje.
Das várias lições que nos dava, lembro-me dele dizendo:
– Nunca peguem o que não é de vocês. Se chegarem em casa com algo que pegaram sem autorização vou levá-los pela orelha e fazer devolver. Credo! Que malvado! Mas nunca pegamos. E serve até hoje. Quer outra?
– Criança não se mete em conversa de adulto. Hoje, se bobear, as crianças da casa não apenas se metem nas conversas como fazem os adultos ficarem quietos. Esta educação levo pra vida.
Outra: – Obedeçam a seus professores, se chegar reclamação de “má educação” na escola, o chinelo vai cantar. Bha, e era ruim a música do chinelo do pai. Hoje, os pais vão às escolas reclamarem do professor que foi “rude com meu filhinho”. É, mudou tudo.
Meu também saudoso sogro, reverendo Dario Pires, foi outro com quem aprendi bastante. Homem de poucas letras, talvez nem o ensino médio possuísse, mas era doutor da escola da vida. Pastor Pires não gostava de ser chamado de pastor. Ele dizia:- “Fla (ele me chamava assim) pastor está muito batido”. Tem muita gente usando e envergonhando o pastorado. Prefiro ser chamado de Reverendo, dá mais respeito”.
Ele não estava errado, continua assim até hoje e como em todas as áreas os bons pagam pelos ruins. Outra do meu sogro:
– Fla, siga o conselho de Salomão. E qual o conselho de Salomão? Eu perguntava.
– Comer bem, beber bem e deleitar-se com a mulher da sua mocidade, respondia ele. Com o detalhe que a minha era, e é, sua filha. Sábio meu sogro.
– Mais uma dele: – Deus nos deu dois ouvidos e uma boca para ouvirmos mais e falarmos menos. Seja um bom ouvinte Fla, fale apenas o necessário se vai contribuir com a alguém. Quem muito fala muito erra, quem muito ouve absorve mais.
Reverendo Pires foi vereador, tendo sido o mais votado do PTB e no primeiro ano chegou pra mim e disse:
– Isso não é pra mim. Vou cumprir o meu mandato e não concorro mais. Ponderei com ele que era cedo, que ainda tinham mais três anos, que ele podia mudar de ideia, podia rever sua posição e ele do alto de sua sabedoria respondeu:
– Não. Ou serei um bom vereador ou serei um bom pastor, e eu prefiro ser um bom pastor. Desistiu no primeiro mandato, deixou como contribuição a Tribuna Livre, que dá espaço para que entidades se manifestem nos primeiros quinze minutos das sessões. A ideia original era abrir espaço ao cidadão comum para se manifestar da tribuna da “casa do povo”, mas os vereadores da época não permitiram que se corresse o risco de ter seu “brilho” ofuscado por algum “plebeu”. Ou seja, o povo não pode se manifestar“na sua casa”.
Nossa vida é marcada pelas relações que criamos, pelas pessoas que passam por ela e por aquilo que absorvemos delas, para o bem e para o mal. Tive e tenho a sorte de conviver com muitas pessoas que me ensinaram e ensinam até hoje sobre aproveitar o melhor de nossa passagem por aqui.
Também, por outro lado, convivi com pessoas que gostaria de esquecer. Viventes que envergonham a espécie humana seja pelo caráter seja pela atitude. Pessoas mesquinhas, maldosas, dissimuladas, arrogantes, e recalcadas e até racistas. Que estão sempre procurando algo para atacar, ofender e prejudicar o próximo por inveja. Dessas quero distância e procuro fazer o contrário delas.
A vida vai ensinando e graças a Deus tive bons professores, bons exemplos. Meu pai e me sogro deixaram marcado na minha paleta ensinamentos que procuro aplicar no meu dia a dia. Tenha uma boa semana, caro leitor e siga os bons exemplos que passam pela sua vida você não vai se arrepender.