Orgulho da favela

Já escrevi vária vezes que tenho orgulho da minha origem. Cresci na favela. Corri as ruas do Morro Bela Vista quando era impensável asfalto nas suas vielas. Quando a favela era discriminada como algo marginal e não tinha o “glamour” mostrado em horário nobre da TV Globo.

Os moradores dos outros bairros olhavam de canto para a Vila Trevo. As pessoas davam voltas para não passar na “volta do Morro” com medo de ser atingidas por pedradas ou assaltadas “pelos faveleiros”. Como se todo morador dali fosse um criminoso ou um louco que sentia prazer em atirar pedras nos outros por pura maldade. Discriminação pura.

Nesse contexto, a maior atração para quem morava por ali eram os domingos de futebol no Grêmio Esportivo Municipal. Ficávamos ansiosos esperando o final de semana, quando tinha campeonato de várzea e haveria embates entre os veteranos, aspirantes e primeiro quadro com outros times da cidade.

Era um baita campeonato de futebol 11. Além do GE Municipal, havia Tanac, Renner, América, Montenegro, Brasil, Fluminense e Cruzeirinho, da zona urbana; mais o interior: São Pedro, Nacional de Muda Boi, Itacolomi, Serrano, São José de Pareci, Dom Diogo, Santa Cecilia, Juventude da Várzea, Juventude de Brochier, Beija-Flor de Reta Grande, Flamenguinho, Pesqueiro, Rua Nova, 7 de Setembro e Vendinha, Porto Garibaldi, Gaúcho de Matiel, Bananal. Ufa. Olha só quantas equipes comandadas pela Liga Montenegrina de Futebol, dirigida por abnegados como Neneco Boss ou o Odorico.

No Grêmio Esportivo Municipal, o estádio era cuidadosamente tratado pelo sr. Fredolino Behrens, o seu Frido, que cuidava do campo como se fosse sua própria casa. Na verdade, era.

Lembro perfeitamente de algumas figuras daqueles times. Dos veteranos, lembro do Remi, do seu Barreto, seu Garibaldo, Saul, Jolô, Pintado, Macico e pé-de-Cana. Nos aspirantes, até já contei aqui daquele time lendário, que tinha Bernardino, Goiaba, Celso, Calo, Juarezinho, Haroldo, Heraldo e Gerson. Já no primeiro quadro, lembro-me do Érico e Vanderlei no gol, Norte e Milton na zaga, Beto Conceição, Sarará, Jorge Lima, Ademarzinho, Cachaça e Chimia.

São lendas do futebol de várzea, que gravaram seus nomes na história do GE Municipal.

Pois hoje quero homenagear outros nomes, esses da atualidade e que encheram de orgulho todos os montenegrinos e também já estão gravados na história, não apenas do Clube, mas de Montenegro. Refiro-me aos meninos vencedores da Taça das Favelas, promovida pela CUFA em parceria com o Departamento de Esportes do Município.

Chegaram à final e foram campões estaduais no último sábado, no estádio do SESC, em Porto Alegre, e agora vão representar o Estado na competição nacional. Destacaram o GE Municipal e levaram Montenegro às telas da RBSTV para todo Estado.

Foram eles: Ryan, Jorge Guilherme, Lucas Brito, Arthur Pastorio, Kevin (Keke), Wesley, Pablo (Crispim), Daniel (Dutra), Maico Henrique, Kauã Lima, Isaac Ribeiro, Emanuel Timm, Henrique Maffacioli, Hugo Soares, Everton (Cebola), Murilo (MH), Diego Rafael, Gabriel (Bigol), Mikael (Caverna). Kauã (Kaka). Parabéns ao Leleco e ao Marcos. São lendas que ficarão gravadas na galeria de heróis do clube. Viva o GE Municipal. Viva a CUFA. Viva a favela.

Últimas Notícias

Destaques