Nos anos 70 existiu na cidade um time formado só por Negros. Era o Zaire. Jogava ali no campo do Municipal ou às vezes atrás, no meio dos maricás em um campo quase sem gramas.
O nome era em homenagem à seleção que disputou a copa de futebol de 1974 e entrou para história como primeiro país da África negra a pisar num campo de Copa do mundo. O Zaire hoje é a República Democrática do Congo. Em 2010 outro time deste país ficou famoso tendo um goleiro com o nome de Kidiaba, mas vamos mudar de assunto.
Circula nas redes, na página Montenegro de Ontem, no Facebook, uma foto de uma das formações deste time do Zaire Montenegrino. Na foto podemos identificar: de pé Djalma (cavalo) Flávio (filho do 7 e pai do Chico do pagode), Tonho, Celso, Bernardino, Nego Dão, Calo, Adão pastel, Eugênio. Agachados: Ademarzinho, Leno, Jorge, Leninho, Ironi, Samico e Luís Paulo. Nesta formação podemos ver alguns de cor branca, além do Flavio que era o técnico, como Tonho e Luís Paulo, mas era comum não aceitarem jogadores que não fossem negros.
Este time fez historia, pois naquela época o racismo e o preconceito que ainda hoje existem, parece-me eram mais exacerbados e até mais “tolerados”. Então formar um time só de negros numa cidade de imigração germânica foi um grande desafio. O time do Zaire era temido, não por ser formado por negros, mas porque todos jogavam muita bola e claro, uma zaga formada por Calo, Nego Dão e Celso metia medo até no Barcelona de hoje. Quando a bola vinha numa dividida, os adversários corriam para o outro lado, senão a “felpa” pegava. Era muito tri. Mas também tinha os craques.
A escalação descrita acima foi apenas uma das várias formações deste baita time que era mais que um time, era uma ideia, um projeto. Vários outros negros jogavam no Zaire. Sarará, Beto Conceição, Nego Xinha, Note e Natalício Ferreira. E é sobre Natalício que quero falar. Jogava de lateral direito e anos depois foi meu treinador. Natalício era o pai do hoje secretário municipal da SMHAD, Luis Fernando Ferreira, o Geraldão.
Luis Fernando tem feito um excepcional trabalho à frente da Secretaria de Habitação e, no último dia 24 de novembro, foi um dos protagonistas de evento na Câmara de Vereadores. Neste dia foi feito um reparo histórico, que incluiu os negros em página oficial do Municipio.
Trabalho capitaneado pelo pesquisador e Jornalista Rogério dos Santos “O resgate negro no Vale do Caí”, pretende despertar as pessoas a conhecer a história dos negros na região. Que coisa linda. Em uma região essencialmente de origem alemã, alguém coloca a verdade dos negros que ajudaram a formar nossa cultura.
O secretário Luis Fernando tem sido um corajoso lutador pelas questões sociais e contra o preconceito e foi um dos responsáveis pela criação do “Comitê de Políticas Públicas do Povo Negro e de Combate ao Racismo no Município de Montenegro”, cuja assinatura do prefeito foi colhida no mesmo dia 24. Não basta ser contra o racismo é preciso ser Antirracista.
O pai Natalício fez parte do histórico time do Zaire, formado só por negros na década de 70, e o filho, Luis Fernando, se credencia a entrar na história, auxiliando no resgate da verdade dos negros que fizeram e fazem parte da cultura da nossa região.