Negão, pimpolho, xumiga e a minha paciência

Já morei em todos os bairros de Montenegro. Da Timbaúva ao Olaria, passando pelo 5 de Maio. Sou quase um morador itinerante. Agora estou aquietado no Bairro Santo Antônio a 100 metros da maior obra desta administração, as tão esperadas rótulas da RSC287, cujo serviço segue a todo vapor e a expectativa é que antes do final de ano possa ser inaugurada, minimizando os riscos de quem atravessa todo dia este ponto.

Dos bairros, um dos que mais lembro foi quando morei no final da José Lerch, atrás do campo da Brigada. Morava ali num chalé de madeira com um enorme terreno que era quase uma chácara. Nesta época trabalhava em turnos no Polo Petroquímico e quando não estava trabalhando normalmente estava dormindo, pois trabalhar em turnos de revezamento de 08×16 de 16×24 e de 00×08 é apenas para os fortes.

Mas trabalhar em turnos também tem coisas boas, tanto que o fiz por mais de 20 anos. Os folgões de 5 dias é uma dessas coisas, e se fizéssemos algumas trocas estas folgas viravam quase férias então nem tudo era negativo em trabalhar neste regime. Mas não há final de semana, feriado, dia santo, natal, réveillon para o turneiro e perdi as contas de quantos Natais e réveillons passei trabalhando. Não me arrependo e confesso até que sinto um pouco de falta do clima de “chão de fábrica”, no linguajar do peão.

Mas voltando quando morava na José Lerch, nesta época meus dois filhos ainda eram crianças e os amigos da vizinhança frequentavam nossa casa para brincar com eles. O pátio era fechado, todo gramado e isso permitia brincadeiras até o anoitecer, principalmente jogar bola.

Dos seus amigos lembro principalmente de três: Negão, Pimpolho e Xumiga. Lembro dos apelidos, mas confesso que não lembro seus nomes. Havia outros, o Gelsinho, o Rodrigo, filho do craque dos gramados Montenegrinos Gilson irmão do Gilnei e mais alguns primos, que também vinham participar do joguinho, mas estes três, mais o Rodrigo que morava ao lado, eram os mais frequentes e estavam todos os dias a jogar futebol do ladinho do quarto em que eu dormia.

Agora pensa bem, eu trabalhara a noite toda, várias vezes chegava moído de cansaço devido aos trabalhos na madrugada. Trabalhar a noite por si só já cansa, pois nosso relógio biológico está programado para trabalhar de dia e dormir a noite. E ao lado do quarto da casa de madeira, vários guris jogando e gritando enquanto jogavam futebol. Boladas na parede. Gritarias. Burburinhos, discussões, comemorações. E o bonito dormindo.

Pior é que eu dormia. Nem ligava para a bagunça. Tinha paciência e nunca fiquei irritado com a algazarra dos guris. Deixava que brincassem. Não brigava com eles nem impedia que aproveitassem sua infância. Eu tinha paciência. Hoje confesso que ando um pouco sem.

Não tenho mais paciência para ingratidão. Não tenho mais paciência para reclamações sem fundamento. Não tenho mais paciência para “engenheiros de Facebook.” Perdi a paciência com oportunistas que só usam as entidades partidárias para benefício próprio. Perdi a paciência com arrogantes, com quem só enxerga defeito, com quem defende Bandido seja que lado for, com quem passa pano para censura quando lhe convém.

Talvez seja a idade. Vamos envelhecendo, ficando mais calejados e menos condescendentes com algumas atitudes. Contrariando até a lógica que diz que ficamos mais pacientes com a idade estou numa fase oposta desta máxima. O fato é que ando com pouca paciência. Bibi, Rodrigo, Negão, Pimpolho e Xumiga teriam que arrumar outro campinho se as experiências da vida tivessem me alcançado antes.

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