O ano não lembro, mas foi em meados da década de 80. Tínhamos um time de futebol de salão e jogávamos, todos os dias, nas quadras de cimento do Bairro Cinco de Maio. Para quem não sabe, naquele tempo era futebol de salão, não Futsal. A bola parecia um tijolo de tão pesada e era menor. E no bairro Cinco de Maio, havia duas quadras de cimento na pracinha. Sim, ja existiu uma pracinha no bairro Cinco de Maio.
Mas, voltando ao nosso time Juvenil: jogavam o Gotfrid no gol, o Diovane Vargas, o Valdir José vulgo Baixinho, o Tita e eu. Não havia reservas, porque éramos muito fominhas para dar lugar a alguém.
Jogávamos bem até. Não perdíamos para nenhum time da vila ou que vinha nos desafiar. Mas é preciso separar um time varzeano, formado por garotos de vila, sem treinador, reunido apenas para lazer, de times participantes de campeonatos, mesmo que amadores.
E o problema é que, na mesma época, existia na cidade o time do Mandarins. O Mandarins era formado pelos melhores jogadores de Futebol de salão, e se preparavam para enfrentar times da região e representar Montenegro no Estado. Não sei de quem foi a ideia de desafiar o Mandarins para um jogo no Centenário, no Ginásio Domingão. E também não sei quem foi que teve a ideia de aceitar. Imagina?
O time era formado pelo Chiquinho do Gol, Heraldo Barreto, Gerson Cabral, Volnei, Alfina, Sandrinho e outros craques do futebol de campo e, principalmente, de salão. Os caras jogavam por música, o Ginásio estava lotado. E tomamos um “arrodião”. Uma sacola. Nem lembro o placar, mas não baixou de uns 10×0.
Não vimos a cor da bola, parecia um time de criança contra adultos. Bem feito para nós. Quem mandou nosso time se meter onde não era chamado? Poderíamos ter ficado bem quietos, jogando nossa bolinha nos finais de tarde, na cancha de cimento. Mas não, fomos nos meter onde não conhecíamos. Passamos vergonha.
Por isso, tenho me policiado nas redes sociais para não dar opinião sobre o que não domino. Onde não conheço. Infelizmente, as redes são campo para especialistas do teclado. Todo mundo dá pitaco em tudo. Sai falando, escrevendo tudo e ofendendo a todos sem ao menos informar-se sobre o assunto. Quando essas ofensas partem para a vida pessoal, acusações levianas e sem provas devemos, buscar nossos direitos, pois “aos acusadores cabe o ônus da prova”.
Tenho acompanhado algumas manifestações sobre votações na Câmara e fico vermelho de vergonha. É tanta gente opinando sobre o que não conhece, sobre assuntos que não domina. É tanto achismo. Em alguns programas locais também se nota isso.
Não sou adepto da censura nas redes. Mesmo tanta gente dando opinião equivocada e postando afirmações desconectadas da verdade, é preciso manter a liberdade. E também usar nossa liberdade para contrapor essas opiniões.
Mas fica a lição: para não passar vergonha, é melhor ficar onde estamos. Como nosso time de vila, que voltou para casa humilhado e de cabeça baixa por não conhecer o chão que pisava. Fica a dica.