Meu ferro-velho preferido

Lembro que ao lado do Boteco do meu avô, no condomínio dos Zabrão, ficava um ferro velho. O local era centro de recebimento do que a gurizada catava pelas vilas ao redor. Não era raro ver os moleques levando em carrinho de mão ou mesmo em sacolas o produto a ser vendido: osso e vidro.

Saiam de lá com algumas “niclas” que gastavam em guloseimas nos armazéns ao lado. Era um ferro velho diferente dos que vemos hoje atulhados de sucata de veículos. Eram poucos veículos sucateados deixados no local. Na frente da casa do meu avô, ao lado da estrada ainda de terra, ficava uma das raras carcaças de automóvel e que era uma atração para a gurizada da rua e onde eu passava horas brincando de motorista.

Era um Mercury Coupê. Só fui saber a marca anos depois pesquisando porque na época não me interessava que carro era, importava que estivesse ali para brincarmos e viajar na fantasia que um dia também estaríamos dirigindo pelas ruas da cidade.
Havia poucos veículos nas ruas e o trânsito era melhor. As carroças e os cavalos eram mais frequentes, tanto que tinha bebedouros para os animais espalhados pelas estradas da cidade. Lembro bem de dois que resistiram até poucos anos: Um na volta do morro entre a Rua Otaviano Moogem e Pastor Bruno Stysinski e outro na Ramiro Barcelos esquina com Rua dos Plátanos. Deveriam ter sido tombados como patrimônio histórico.

Hoje temos quase mais veículos que moradores na cidade. Basta pesquisar a evolução da frota do município e veremos que de 26 mil em 2007 saltamos para 46 mil veículos em 2021. Levando em conta que a população atualizada pelos dados do IBGE fica em aproximadamente 64 mil moradores e neste total encontram-se crianças ou pessoas que não possuem nenhum veículo e chegamos à constatação que muitos possuem dois carros ou mais na garagem.
Além disso, as montadoras enchem as concessionárias de carros todos os meses e a TV apresenta propaganda de verdadeiras naves que deixa as crianças grandes babando de vontade de assumir um carnê tipo casas Bahia. Azar se a gasolina está quase seis reais.

A cidade cresceu e não houve planejamento de tráfego nem projeto de mobilidade urbana. São mais veículos nas mesmas ruas. Mais veículos e, consequentemente, é necessária mais manutenção viária. Também andamos na contramão retirando usuários do transporte público e colocando em carros de aplicativos ou mesmo adquirindo veículo e deixando de utilizar ônibus, trazendo mais carro para o centro da cidade. É uma bola de neve.

Precisamos interpretar corretamente os dados do Censo que em breve serão divulgados pelo IBGE e utilizarmos para planejar o futuro da cidade. Passou da hora de um estudo de engenharia de tráfego para organizar, aperfeiçoar e controlar o tráfego da cidade sempre com viés de segurança e conforto aos diversos usuários.

Será que as vias de mão única ainda cumprem com o que se espera delas? Será que não precisa incluir outras e suprimir algumas? Será que não precisamos de outros equipamentos de sinalização mais modernos e que façam o trafego fluir? Será que não precisamos iniciativas para incentivar o uso do transporte público e que deixemos o carro em casa?
São perguntas fáceis de responder quando vemos o caos que é nosso trânsito não somente a nível municipal, mas também estadual. Chega dar saudade de quando dirigir era apenas uma fantasia infantil.

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