Estamos vivendo a história

Cresci no Bairro Bela Vista e, apesar das dificuldades e carências do bairro, os alagamentos não eram uma rotina.

Ali não vai enchente, mas sempre que chovia e alagava o Bairro Industrial, por exemplo, descíamos do morro e íamos ajudar quem precisava.

Não lembro, na minha infância, de ver o campo do Grêmio Esportivo Municipal todo alagado com água até a altura das goleiras como tem se tornado rotina ultimamente.
Naquele tempo, o máximo que chegava a água era na goleira de trás e nas imediações do bairro.

Agora toda enchente chega, inclusive nas casas do bairro Municipal. Lembro que os mais velhos falavam: “Vocês não viram nada. A enchente de 1941 sim foi enchente, veio água aqui na beira do Morro. Porto Alegre foi água no Mercado Público”.

Pois agora passaremos a dizer que nunca vimos enchente como a de 2024.
Este ano e esta tragédia passará a ser um marco na História.

Esta enchente superou aquela em muito. Foi água onde nunca havia chegado. Foram atingidas casas que nunca haviam sido atingidas. Aqui na nossa cidade a água passou da Praça Rui Barbosa. Chegou quase ao Café Comercial.

A tragédia só não foi maior porque agimos rápido e conseguimos retirar as pessoas antes de serem atingidas e depois, graças ao trabalho de centenas de barqueiros e pescadores voluntários, resgatamos milhares de pessoas em suas casas, algumas nos telhados outras no sótão. Loucura.

Aqui cabe um agradecimento especial a esta gente que veio ajudar a salvar pessoas e animais. O povo Montenegrino e da região merece todo nosso reconhecimento.

A água não escolhe classe social e mesmo gente abastada teve sua casa atingida e perdeu tudo. Esses, apesar de tudo, conseguirão repor o que perderam.

Teve família que recém estava quitando a terceira parcela do financiamento que fez para comprar moveis perdidos na última enchente. E perdeu tudo de novo. Teve casa com água até o teto. Aonde nunca ia água.

Fizemos nossa parte, prevenindo, resgatando e auxiliando com material de limpeza, comida, água, colchões e tudo o mais que pudemos ajudar. Mas nada resgatará as memórias perdidas. Os álbuns de fotografias molhados, os HDs de computadores danificados, os celulares perdidos na enchente.

Agora vem a reconstrução. Famílias que sairão do abrigo e chegarão as suas casas destruídas, sem nada. Agora vem a pior parte.

Precisaremos de muito apoio psicológico e afetivo para abraçar e trabalhar juntos pela reconstrução das áreas atingidas.

Mas o povo Montenegrino já demonstrou que é diferenciado. Que é solidário e brotou ajuda de todo lado e vai continuar vindo, tenho certeza.

Pude acompanhar a chegada de muita gente vindo auxiliar a cada chamamento feito pelo prefeito. Apareceram pessoas, materiais e mantimentos de todo lado. Nos levantaremos mais fortes desta tragédia. Parabéns a todos, desde aquele que trouxe um galão de água àquele que doou um caminhão de colchões.
Na tragédia, provamos que ainda temos humanidade. Seguimos.

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