Gosto de fazer analogias com histórias bíblicas. Até porque a Bíblia deveria ser a regra de fé do homem. O manual de instrução do serumaninho. Assim como a cafeteira lá de casa, que comprei no carnê das casas Bahia, veio com um manual, indicando como deveria ser utilizada, como deveria ser ligada na tomada, em qual voltagem, qual a distância da parede, qual o nível de água utilizar, quais as cápsulas de café eram compatíveis, enfim, tudo que eu devo saber para tirar o melhor do equipamento.
A Bíblia deveria ser utilizada pelo Homem para “receber o melhor desta terra”. Porém seguimos todo e qualquer livro de autoajuda do Zé das Couves, ou qualquer “influencer” pseudo intelectual, que brota como capim na internet, antes de darmos o devido valor ao Livro que poderia nos fazer verdadeiramente felizes.
Pois então, no Livro Sagrado, está a história de José, que foi vendido pelos irmãos para ser escravo. Tudo motivado pelo ciúme dos seus irmãos sobre o relacionamento dele com seu pai, o patriarca Jacó. Jacó era neto de Abraão, por sua vez patriarca de Árabes e Judeus. José era então bisneto de Abraão. Olha só que responsa!
Mas voltando à história da sua venda pelos irmãos, ele foi vendido a mercadores da época (sim, a escravidão já existia e eram outras pessoas que vendiam pessoas, tal qual nossos irmãos africanos que aqui chegaram). Tornou-se escravo no Egito e foi servir no Palácio do Faraó.
Mas olha só como as coisas são: por sua fidelidade e sabedoria, acabou crescendo no conceito do Rei e foi alçado a vice-governador do Egito. Virou um Geraldo Alckmin. Só o Faraó mandava mais que ele. E foi nessa condição que salvou o Egito da fome e, depois, salvou seu próprio país e sua família de morrerem de inanição.
Então, o que tiramos desta história é que sempre há algo positivo em tudo que nos acontece, mesmo nas coisas ruins. Sempre podemos tirar lições e ver algo bom. Mesmo nas tragédias. Mesmo no evento catastrófico das ultimas cheias, que devastou cidades e deixou um rastro de mortes e destruição, podemos enxergar algo bom.
Estive em Muçum no dia 8 de setembro, logo após a destruição causada pela inundação do Rio Taquari, e fiquei apavorado. Cenário de morte. Dor. Tristeza. A cidade acabou como era conhecida. Tudo destruído. Lama. Lojas acabadas. Mercados. Padarias. Nada ficou de pé. Além de várias mortes de famílias inteiras.
Porém, também enxerguei algo bom nesta tragédia. Ainda há esperança nas pessoas. A solidariedade vista foi algo emocionante. Chegou gente de todos os lados. Gente com vassoura, enxada, pá, rodo, balde, lava-jato. Grupos iam chegando em vans e ônibus para ajudar na limpeza da cidade. Prefeituras de várias cidades mandaram máquinas e pessoal para apoio ao prefeito local. E continua chegando ajuda.
É reconfortante porque o que os moradores destas cidades atingidas mais precisam, agora, é de apoio. De um abraço, talvez. De um ombro para chorar junto. De ouvidos para ouvir seus lamentos. De mãos para ajudar a enxugar as lágrimas. Pode parecer pouco, mas às vezes faz diferença para continuar e reconstruir suas vidas. Fizemos nossa parte e também fomos prestar ajuda aos irmãos destas cidades. Foram vários servidores e pessoas anônimas que merecem todo nosso reconhecimento.
Nossos sentimentos às famílias atingidas. Nossos braços para juntarmos força. E nossa energia espiritual para que se fortaleçam e superem este momento de tragédia.