Já fui vendedor de picolés. Das marcas Saramel e Milk Moni. Se você não sabia, caro leitor, estas duas marcas eram montenegrinas. Existiram e fizeram muito sucesso na cidade até meados dos anos 1980.
Saramel era da família Maluf, que morava e tinha a empresa de sorvetes e picolé ali na esquina em frente ao antigo Bar dos Pampas. Moravam na parte de cima e, embaixo, ficava a sorveteria. Lembro dos vários carrinhos dispostos na frente do sobrado e dos vendedores, que na maioria eram adolescentes, buscando o equipamento e saindo para vender Saramel em toda a cidade.
Os picolés da Saramel venderam muito e não lembro quando deixaram de existir. Os Maluf eram paulistas e cheguei a estudar com um dos irmãos no Polivalente. Se não me engano, eram três, dois meninos e uma menina. Devem ter voltado para São Paulo, pois nunca mais os vi. Mas de Saramel, nunca esqueci.
Já do Milk Moni, não lembro quem era o dono, só lembro que a empresa se estabeleceu ali no complexo dos “Abrão” e eu, ainda uma criança, fui um dos vendedores. Quase não tinha força para levar o carrinho pelas ruas da cidade, mas me esforçava para voltar com todas as caixas vazias no final do dia.
Fui um bom vendedor. Mas nada comparado ao seu Adãozinho. Este era um senhor de mais idade, devia ter uns 30 anos, quase um ancião para nós, que éramos crianças. Adãozinho era de baixa estatura, meio gordinho e caminhava com os pés para dentro, usava invariavelmente um par de chinelos nos pés e era o melhor vendedor da Milk Moni.
Andava quilômetros para vender picolé. Lembro de uma Festa na Igreja de Passo da Amora em que ele iria, daqui do Centro até lá, empurrando seu carrinho para vender picolé. Resolvi ir junto para aproveitar, pois, com certeza, venderíamos tudo. E fui. Vencemos os quase 7 km, boa parte de estrada de chão, poeiras e pedras e chegamos para vender nosso produto na festa de Passo da Amora. Quase morri de cansaço e o seu Adãozinho tranquilo, naquele característico caminhar. Vendemos tudo e faltou picolé para atender a demanda.
Lembrei do seu Adãozinho semana passada, quando o prefeito Zanatta assinou, simbolicamente, o início de obra para o asfaltamento da estrada Antonio Carlos Fernandes da Rosa. A estrada liga a RS 124 à BR 386, em Vendinha, passando, obviamente, pelo Passo da Amora.
O chão batido, a poeira e as pedras serão substituídos pelo asfalto e os moradores, principalmente de Passo da Amora, deixarão de conviver com essas dificuldades. Mais uma demanda da comunidade de muitos anos sendo atendida por essa administração.
Serão 2,5 km nesta primeira etapa e, depois, mais 2,5 km, totalizando 5 km provavelmente ainda este ano. Faltarão apenas 4 km para o asfaltamento de toda a extensão, até Vendinha, que queremos concluir neste mandato.
O famoso Salão do Cléo, local onde ocorreu a cerimônia, estava lotado e certamente os moradores foram para celebrar, pois Passo da Amora e todos os moradores desta estrada passarão a ter mais qualidade nos seus deslocamentos, tanto para Montenegro quanto para Porto Alegre, via Vendinha.
Adeus pedras e poeiras, adeus chão batido. Se Adãozinho ainda fosse vendedor, iria ficar feliz, pois caminhar para vender picolé nas festas de Passo da Amora seria bem menos penoso.
Até a próxima coluna.
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