A kombi do meínha

Flavio Meínha era nosso técnico. Treinador do time da gurizada do Municipal. Flavio vivia empoleirado no seu cavalo ou dirigindo sua charrete. Ia para os jogos assim. Todo dia estava na beira da estrada colhendo capim elefante para o seu animal.

Nos dias de jogos estava à beira do gramado com uma meia-calça encravada na cabeça (Daí Meínha), palheiro no canto da boca e a gritar com o Nego Chinha . Nosso time era bom. Caio Juliano no gol, Camanga na direita, Chinha e Mado na zaga, na esquerda, o Pirê. Meio campo era Eu, Zequinha e Peitudo e no ataque, o Tita, Traguinho e Zinha.

Certa feita iriamos jogar no “exterior”. Era no Juventude do Pareci, mas para nós que mal saímos do bairro era uma epopeia viajar tão longe. Ainda mais que não tínhamos condução à época. Não podíamos ir todos na carroça do Meínha. Então conseguimos a muito custo contratar um transporte para levar nossa equipe até o Pareci. Contratamos a Kombi do Guarda Chuva.

A Kombi era daquelas que não tinha folga na direção, tinha férias. Dava-se quase uma volta para manter a Kombi em linha reta. Loucura, mas o Guarda Chuva que era o dono já estava acostumado. Acontece que no dia do Jogo, o Guarda Chuva ficou doente. Chegamos a sua casa para sairmos e ele não podia nos levar porque estava de cama com uma forte gripe daquelas, que, se fosse hoje, era pré-Covid. Bateu o desespero. Imaginem segurar a frustração e ansiedade de 15 guris de vila, loucos para jogar futebol numa excursão.

Foi aí que a emenda ficou pior que o soneto. Flavio Meínha se apresentou para dirigir a Kombi no lugar do Guarda Chuva. Quer dizer, de carroceiro e treinador passou a motorista também. Para nós, pouco importava se ele nunca tinha dirigido nem um fusca, quanto mais uma Kombi. Importava que não ficássemos sem jogar contra o Juventude.

Lá estávamos todos nós na frente da casa do Guarda Chuva, com nossos apetrechos e fardamentos para irmos para o Jogo e sem motorista. Flavio pegou a chave da Kombi, que na verdade era uma chave de fenda que girava a ignição, mandou todos entrarem aos gritos de “vamos lá gurizada”. Meínha não sabia dirigir, ele tinha uma charrete e mesmo que soubesse, nesta Kombi até o Airton Senna passaria trabalho, pois só o Guarda Chuva sabia todas as manhas. Fomos zigue zagueando até a saída do bairro e paramos num barranco logo após o cemitério quase que de cabeça para baixo dentro da Kombi. Frustração total, mas todos vivos graças a Deus.

Imagina o perigo? Uma Kombi, cheia de guris dentro com um motorista sem carteira? Que perigo.
Assim como celular nas mãos de alguns hoje em dia. As redes sociais produziram um fenômeno tão perigoso quanto a Kombi nas mãos do Meínha. Qualquer jaguara, que mal sabe articular uma frase, se acha no direito de dar pitaco em tudo. De engenharia a Administração. De Trânsito a obras. De Saúde a educação, eles têm solução para tudo. Porém, não mexem um dedo para ajudar. Apenas pegam um celular e saem pela cidade atacando tudo e a todos. Destruindo reputações e produzindo mentiras e ódios pela rede. Antes de acusar poderiam buscar informações e daí sim criticar ou apontar soluções, isso seria construtivo.

É claro que existem problemas e muitos não serão solucionados mesmo em quatro anos. Mas é preciso educação até para ser critico e o mínimo de conhecimento técnico. E estes oportunistas na verdade estariam calados se tivessem seu nome no boletim de pessoal da prefeitura. Sorte que a justiça tem sido acionada e quem se sente atingido tem buscado socorro contra este tipo de “influencer do mal”. Celular na mão de quem não constrói é como uma Kombi carregada de crianças com um motorista sem carteira.

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