O episódio internacional que envolveu um proeminente médico gaúcho, acusado e arrestado pelo governo do Egito por assédio sexual verbal a uma jovem vendedora de papiros, é a prova cabal de que o culto egolátrico é o caminho mais curto para o vexame. Se o narcisista estiver cercado de uma claque de bobos-da-corte, sucesso garantido para a vergonha internacional.
O midiático cirurgião plástico se tornou famoso pela heterodoxia da medicina que pratica, quando não está usando o bisturi. Suas palestras têm a pretensão de “mudar a vida das pessoas”, ensinando-lhes como se manter magras para o resto da vida.
Não é isto que queremos, mantermo-nos magros para o resto da vida? Milhares de seguidores em redes sociais, engajados como milicos que não querem a baixa, trazem fama e dinheiro ao influencer digital. E um séquito de aduladores presenciais. Como naquela loja no Egito, em que nenhum dos debochados acompanhantes do médico teve o siso de advertí-lo para que não fizesse a “brincadeira”, muito menos a publicasse em sua rede social, tão cheia de lovers quanto de haters. Deu no que deu.
O lacrador das redes sociais, que chama de “bostas” a seus discordantes e lhes manda deixarem de o seguir, sorriu nervoso e amarelo ao ter de se desculpar com a moçoila árabe.
A expressão brasileira “vergonha alheia” tem seu respectivo termo também em Inglês, vicariousembarrasment, traduzido livremente por constrangimento indireto. É“o sentimento de constrangimento ao observar as ações constrangedoras de outra pessoa”. O embaraço vicário seria o oposto da sensação de prazer ou satisfação com o infortúnio, humilhação ou constrangimento de outra pessoa.
Pessoalmente, não considero que o médico tivesse intenções lascivas ou interesse imediato de perpetrar sexo com a vendedora de papiros com cantada tão ridícula. Assédio sexual, em minha particular interpretação, haveria de ter a característica de obter vantagem sexual (credo!) como finalidade. Não era o caso.
O que causa a vergonha alheia é o fato de tão culto médico, oriundo de família com formação superior, não se dar conta do ambiente e cultura em que está metido, e cometer gracinhas sem nexo e, mesmo, sem graça? Só se riram os seus circunstantes, alimentados pelo dinheiro do doutor.
Em que pode lembrar um papiro a um falo? De que estão cheias as memórias do médico para que a primeira coisa que lhe vem à cabeça ao ouvir “duro” e “comprido” seja um membro viril? E quem lhe contou que à árabes lhes agradam coisas compridas e duras?
Vergonha vicária é o que sinto e, talvez, os brasileiros em geral. Sinto vergonha pelo cirurgião plástico. De forma substituta, sinto vergonha. E, empaticamente, espero que o doutor se recupere do vexame.
Temos todos que aprender que, longe de nossos afetos, somos apenas mais um na fila da caixa Econômica. E aduladores não deveriam nos fazer sentir em casa, quando longe de nossa cultura.