Nunca se deve confundir tensão pré-menstrual com tensão pré-eleitoral, mas os sintomas são quase idênticos, com a diferença de que a primeira só acomete mulheres; a segunda, erga omnes.
Os períodos que antecedem candidaturas e campanhas políticas costumam provocar uma variedade de sintomas físicos, emocionais e comportamentais. São fenômenos que, por vezes, não são percebidos pelos pacientes, mas por quem os observa. Estão nervosos, irritadiços, incham-se, mal-humorados, insones, ansiosos.
Durante o período de enchentes recentes, minha esposa prestou serviços voluntários em ginásio onde se organizavam e distribuíam alimentos, produtos de higiene e agasalhos para as pessoas atingidas pela tragédia. A responsabilidade pelos trabalhos era da Municipalidade. Ali, muitas vezes, Andréa precisou responder a perguntas do tipo se era uma CC ou se estava pretendendo um desses cargos comissionados ou eleitorais. Não, estava ali fazendo trabalho voluntário a que chama de propósito da vida: amar as pessoas. Embora não entendessem bem, quem estava ali justamente pelos objetivos com que se preocupavam, ficavam aliviados pela menor concorrência.
Não vou incorrer na injustiça de pensar que a maioria dos que se voluntariaram para serviços de socorro aos flagelados tivessem propósitos eleitorais, mas – evidentemente – ali também havia solícitos pré-candidatos eleitorais ou a cargos no futuro governo. Não faço juízo de valor. A vida é assim mesmo; imita o sistema político. Buscar um cargo político como resultado de bons trabalhos prestados à sociedade não deve, a priori, sofrer condenação. As intenções do coração não são facilmente auditáveis.
A eleição majoritária é como linha em buraco de agulha: só passa uma, bem apertadinha. Eleição proporcional é como tarrafa: peixe grande de voto fica, os lambaris escapam pela malha. Mas antes que as urnas falem, a tensão deixa a todos nervosos, como em casa de mãe de família em período de TPM.
A tensão pré-eleitoral também desperta sentimentos que levam alguns a descuidarem de seus próprios atributos para chamarem a atenção para o rabo dos outros macacos. É quando se inicia a guerra de bugios, cujas armas são os dejetos de cada qual adversário. Um joga seu próprio excremento para sujar o outro. Reputações são enterradas nas valas rasas da calúnia, da injúria e da difamação. E fatos, por vezes, não são considerados.
Neste momento, três casos de falta de decoro parlamentar são investigados pela Comissão de Ética da Câmara Municipal, e não sem motivações. As comissões servem para isso – investigar. Um processo aberto contra um vereador não se trata de sentença condenatória antecipada, pelo contrário, é o cumprimento do regimento interno e do código de ética da Casa que visam, sobretudo, preservar a dignidade do Poder Legislativo. Por ser um processo devidamente legal, o direito de ampla defesa dos acusados é garantido, e só o plenário da Câmara, por maioria absoluta dos votos, pode cassar o mandato de parlamentar. Se for o caso, pois a perda do mandato de vereador é a mais grave pena entre as elencadas no Código de Ética da Casa. Entretanto, os propositores das ações e o tribunal das redes sociais querem, de plano, a cassação dos faltosos.
A Comissão de Ética da Câmara deve avaliar profundamente se há fundamentação para as cassações, ou se são apenas frutos da intensidade e das mudanças de humor da tensão pré-eleitoral.
As tensões pré-eleitorais não duram mais que o período devido, e – como a TPM – decisões muito extravagantes podem afetar o futuro dos casamentos.