Fui muito incompreendido nos primeiros tempos de carreira. Pares e subordinados me viam como arrogante, imiscível como uma mistura água e óleo, não sociável. Por certo, esses julgamentos precoces geram problemas relacionais em um ambiente laboral. E antipatias levam às caracterizações depreciativas. Na falta de melhor argumentação, levantam-se difamações. Se o cara se veste bem, com certo estilo, é um mauricinho metido. Se tem postura física, é um pombo, aquele que anda de peito estufado. Se tem posição firme com os objetivos corporativos, é um pelego. Ambientes de trabalho assim não atingem resultados satisfatórios para ninguém.
Bueno, se há coisas que Freud não explica, Jung tenta, e uma dupla de mãe e filha podem ajudar. Fomos apresentados ao MBTI, Myers-Briggs Type Indicator, o questionário que classifica pessoas em categorias designadas por quatro letras, desenvolvido pelas americanas Katharine Briggs e Isabel Myers, mãe e filha, que simplificaram a teoria de Carl Jung sobre tipos psicológicos. Não há estagiário de RH que não tenha, ao menos, ouvido falar sobre o método MTBI, embora poucos tenham oportunidade de usá-lo.
O MBTI apresenta 16 tipos de personalidade. Cada tipo é definido por quatro letras, cuja base tem quatro eixos: introversão (I) e extroversão (E), sensação (S) e intuição (N), pensamento (T) e sentimento (F), julgamento (J) e percepção (P). Feito o teste, é-se etiquetado com quatro letrinhas que, supostamente, descrevem nossa personalidade. Assim, se alguém se enquadrar como uma pessoa ENTP, se dirá que é esperta e curiosa, sempre em busca de desafios, tem como meta adquirir novos conhecimentos e adora processos de discussão mental. É um inovador.
Pois, coube a este escrevinhador, ser definido como um INFP, o que poderia significar para os desafetos algo do tipo “indivíduo naturalmente filho da puta”, revelou-me um mediador. Introvertido, intuitivo, com feeling (sentimento) e perceptivo. Ficamos sabendo que sou idealista, que procuro o melhor mesmo nas piores pessoas e eventos, buscando um jeito de melhorar as coisas. Posso ser julgado como calmo, reservado, mesmo tímido. Tenho uma chama interior e uma paixão que podem brilhar. Faço parte de apenas 4% da população e o risco de me sentir incompreendido é alto. Virgem Santa! Isto é mais correto do que as características dos nascidos entre 20 de fevereiro e 20 de março, conforme a astrologia.
A partir do momento em que todos ficamos conhecendo melhor a personalidade de cada um, os colegas perceberam que, assim como no caso dos desafinados de João Gilberto, no peito de um INFP também bate um coração. O ambiente de trabalho melhorou muito.
Em verdade, o MBTI – ou outros testes de igual valor – deveria ser aplicado pelas empresas durante a fase de seleção de pessoas para ocuparem cargos e funções, facilitando a formação de equipes em que a diversidade de personalidades é aceita e mesmo preferível, como elemento sinergético em busca de times de alta performance e produtividade.
A seleção de pessoas por serem bonitas, apenas bonitas, deveria valer apenas para os tais Book Rosa, aqueles que guardam verdades secretas.