Desativei todas as notificações sonoras do meu Iphone. A coisa anda tão doida que qualquer alerta de que entrou uma mensagem no zap-zap ou no e-mail corporativo, descarrega uma dose quase letal de cortisol na corrente sanguínea. Cortisol é um hormônio produzido na glândula suprarrenal para responder ao estresse, adaptando nosso organismo ao sobressalto momentâneo.
Mas, o que era para ser episódico como um ataque de leão, ameaças à nossa segurança, agora se dão a cada segundo. E não que sejam verdadeiras. Como as suprarrenais não têm discernimento próprio, dão-nos uma injeção de cortisol para nos manter espertos como os cariocas.
Segundo os médicos, estresse e ansiedade têm sintomas muito parecidos, mas com uma diferença importante. Enquanto o estresse está relacionado com situações ou pensamentos que provocam frustação e nervosismo que passam espontaneamente, a ansiedade está relacionada com medo irracional, aflição, preocupação excessiva e angústia devido à sensação de perigo e incerteza.
Então, estresse não deveria ser uma doença crônica como está se tornando. Mas as urgências modernas, reais ou provocadas falsamente pela instantaneidade da comunicação digital está nos mantendo em estado constante de estresse e, logo, com abundância de cortisol na corrente sanguínea, o que não ajuda. Excesso de cortisol, entre outros males, causa depósito de gordura abdominal.
Segundo pesquisa da desenvolvedora russa de proteção de dados, Karspersky, em nível global houve aumento do uso dos celulares durante a pandemia e chegou-se a passar mais de seis horas diárias em aplicativos. Conforme especialistas, a “prontidão” é o pretexto mais usado por aqueles que não conseguem parar de dar skroll nos feeds das redes sociais. Há sempre o receio de que alguém necessite desesperadamente se comunicar conosco. Quando o caso é de trabalho, mais cortisol, por favor.
E assim vivemos estes tempos. O estresse se torna ansiedade.
“Quando são duas e meia da manhã eu sempre tenho um tumor no cérebro”. Assim começa o livro “Porque Zebras não têm Úlcera”, de Robert Sapolsky, professor de ciências biológicas e neurológicas e de neurologia em Stanford. Refere-se ao fato de não pegarmos no sono enquanto julgamos os sintomas do estresse e da ansiedade como se fossem o prenúncio de uma tragédia como um tumor no cérebro.
Sapolsky nos entrega um poderoso esquema mental sobre como enfrentar a ansiedade pela compreensão dela. Sua didática exposição toma a análise hormonal de zebras. Zebras estão continuamente ameaçadas por leões, mas não vivem em estresse desnecessário. A zebra não sofre neuroquimicamente antes do leão chegar. Também não sofre depois que o leão já se foi. O sofrimento fisiológico, o estresse agudo, acontece apenas quando o perigo está diante de si. Não existe perigo antes nem depois. Zebras não sofrem de úlcera – nem de ansiedade – por administrarem bem os estresses reais que a vida proporciona. Quando se safam do predador, vão pastar placidamente pelas savanas.
A hiperconectividade contribui decisivamente para o estresse, ansiedade e depressão. Por isso, desativei as notificações sonoras do meu smartphone.
Agora, quero ser como as zebras.