Oriundo do país em que vive: aborígine. A coincidência de algumas letras das colunas horizontal e vertical, fizeram-me perceber que as faltantes seriam aquelas que completariam a palavra.
Sempre soubera que “aborígine” é o habitante primitivo da Austrália como o gaúcho é o habitante dos pampas, isto é, um adjetivo ou substantivo gentílico – que indicam a naturalidade ou relação de alguém com o lugar. Naquele dia, guri de cultura ainda ginasial, aprendi que aborígine é todo e qualquer que nasceu no exato local em que vive: cidade, estado, país. Um alienígena letrado diria que somos aborígines terráqueos; oriundos do planetinha azul em que vivemos.
Preencher palavras cruzadas é um de meus passatempos favoritos, ainda que por algum tempo o tenha negligenciado. Poderia alegar escassez de tempo, mas vocês não acreditariam. A oferta de distrações se avolumou nos últimos tempos. Isso, sim.
Curioso pelas palavras, seus significados originais – a etimologia – que explicam muita coisa, encontrei nos dicionários e, depois, nas palavras cruzadas a forma de enriquecer o vocabulário. Se não achava custoso consultar o amansa-burros, as palavras cruzadas, então, abriram-me a possibilidade de aprender sob o desafio de completar toda a grelha com palavras que se entrecruzam vertical e horizontalmente, de preferência sem consultar o banco de palavras ou as soluções das questões, normalmente publicadas de perna para cima.
Um bom vocabulário proporciona escrita mais harmoniosa e comunicação mais eficiente. A leitura como hábito (vício soaria muito politicamente incorreto para vocês?) é um santo remédio para o desenvolvimento de melhor texto, mas não nutro grandes esperanças de que as próximas gerações se empenhem em desenvolver o vocabulário e a escrita, quando as novas formas de comunicação estão se esforçando para que voltemos à era dos pictogramas e às abreviações dos que têm urgência.
Dia desses, enquanto preenchia as palavras cruzadas do Jornal Ibiá, ocorreu-me perguntar a uma pós-adolescente circunstante, se não gostava deste passatempo, ao que me respondeu com autoridade: “palavra cruzada é coisa de velho, ainda mais de jornal!” Certo, certo. Mas, etarismo à parte, preencho as palavras cruzadas da edição eletrônica de Zero Hora, também. Digitalmente. Como a geração Z ou Alpha fariam se lhes gostassem as letras.
– Tu lês?
– Leio.
– Lês minhas colunas no Ibiá?
– Não.
– Leia a coluna de hoje. Vê se gostas?
– O que é “hodierno”?
– Hodierno é o que é atual, moderno. Upto date. Saca?
Esta aprendi quando lia uma das edições antigas da revista Seleções. Nunca perdi a coluna Enriqueça Seu Vocabulário.