Se digitarmos “easteregg” no Google tradutor, a rede neural por trás do aplicativo dirá imediatamente que a expressão significa “ovo de Páscoa”. As expressões, entretanto, podem adquirir outras significações que não a literal, pelo uso de figuras de linguagem. “Eastereggs” são as guloseimas de chocolate em forma de ovo, mas pode significar, também, por comparação, elementos escondidos dentro de criações como filmes, games, páginas de internet, vídeos e softwares, usados para fazer graça, expor uma marca, ou fazer referência a uma outra obra. O nome curioso para estas mensagens subliminares é devido ao fato de que a busca por elas pode ser comparada à caça aos ovos de páscoa, escondidos pelos pais em vários locais da casa ou do quintal, muito comum nos Estados Unidos. Os eastereggs são brincadeiras intencionais dos diretores e têm verdadeiros fãs obcecado pelo passatempo, capazes de passarem horas ou dias assistindo a filmes em busca dos tais ovos de páscoa. O próprio Google é um dos maiores brincalhões. Para os saudosistas de jogos antigos, é possível jogar Atari Breakout, de 1976,bastando pesquisar pelo nome do joguinho na aba de imagens do buscador. É um ovo de páscoa escondido. Alfred Hitchcock, diretor e produtor inglês, talvez tenha sido o primeiro a esconder ovos de páscoa em seus filmes. Os eastereggs de Hitchcock consistiam em pequenas e disfarçadas aparições próprias, as quais, para expectadores distraídos como eu, passariam despercebidas. Ele aparece em 39 dos 52 filmes que fez. No mais famoso de todos, Os Pássaros, de 1963, Hitchcock pode ser visto saindo de um pet shop conduzindo dois cãezinhos pelas respectivas guias.É um clássico do cinema e dos eastereggs.
O palanque erigido na Avenida Paulista no domingo para o discurso da vitória de Lula, estava rodeado pela multidão que comemorava a eleição do petista. Sobre o tablado, políticos que apoiam Lula desde sempre ou eventualmente – os companheiros – e outros que aderiram à campanha petista no segundo turno por rejeição a Bolsonaro. Como em todos os palanques vitoriosos, acotovelavam-se papagaios-de-pirata, desinibidos, buscando a viral exposição midiática. As tomadas mais abertas das câmeras de televisão tornavam uma só a massa em volta e a massa sobre o palanque.
Mas, havia um easteregg na cena.
Um senhor calvo, com o que resta do cabelo amansado por gel, de nariz romano, camisa branca e dedos nervosamente entrelaçados sobre o púbis, que, desenxabidamente, tentava ser parte homogênea daquela reunião. Como se um diretor ali o tivesse posto, por diversão, para ser descoberto por caçadores de ovos de páscoa.
Vez por outra, ensaiava um “L” com o dedão da mão direita na horizontal e o indicador na posição vertical que, de tão tímido, mais parecia um “C”, de casa.
Como Geraldo Alckmin foi parar naquela cena, parecendo tão desconfortável, se não pela arte de alguém que quisesse passar uma mensagem subliminar, como os eastereggs do cinema? Logo Alckmin que, há alguns meses apenas, acusava Lula de querer voltar à cena do crime (de corrupção) ao buscar nova eleição? Depois, inocentemente, esclareceu que fora levado por fake news a julgar injustamente o agora chefe.
Minhas elucubrações noturnas levam-me a entender que há uma só razão para aquele easteregg inesperado estar na cena do discurso vitorioso de Lula: demonstrar que não há motivação para a guerra fraticida que se tornou a política. São os inconfessáveis interesses de alguns políticos que não nos aconselham a brigar por eles.
Eu vi de cara que havia um easteregg no palanque de Lula.