Em que pese as restrições impostas pelos protocolos sanitários em dias pandêmicos, o último sábado chamou para as ruas grande número de pessoas. Tanto o clima meteorológico como o clima anímico proporcionado pela proximidade das festas, levaram muitas pessoas a beber alguma coisa com os amigos em bares, pubs ou em festinhas camufladas de reunião do núcleo familiar.
Em Montenegro, um professor universitário passeava equilibrando-se sobre uma potente motocicleta. Anoiteceu e, vento na cara, regressava à casa, na Capital. Um homem de 59 anos pilotando sua moto BMW não quer guerra com ninguém.
Do outro lado da cidade, um jovem professor da rede pública estadual escolheu se reunir com amigos em um pub, passado muito tempo de isolamento social. Bebeu chopp, riu-se com os confrades, esquecendo por aqueles instantes que o mundo é uma arena. Um jovem que tem um grupo com quem compartir chopps e risadas, não quer guerra com ninguém.
O equilibrista da moto encontrou o seu bêbado. A moto, atingida por trás por um carro em alta velocidade, projetou o professor à distância sobre o asfalto. Os transeuntes que pelo local do acidente passaram, viram jazer inerte o corpo do professor de Biologia que amava dar bandas de moto.
No pub, o jovem professor estadual deu por encerrada a noitada e levantou-se para ir embora. Encontrou velha amiga que, por coincidência, estava feliz da vida comemorando aniversário. Velhos amigos quando se encontram, especialmente em data de aniversário, são efusivos em seus cumprimentos. A velha amiga é casada e o marido é o dono do pub. Enciumou-se o homem. Segundo depõe o jovem professor, ambos foram ofendidos verbal e fisicamente. “Bebi um pouco demais”, justificou-se o agressor ao depois.
A embriaguez – seja voluntária, culposa, completa ou incompleta – não afasta a imputabilidade. Somente a embriaguez involuntária completa exclui a culpabilidade. O motorista e o homem do pub beberam por livre vontade. Aquele clima de sábado passado era convidativo.
Dirigir um carro em alta velocidade é uma das formas de se demonstrar virilidade. O álcool potencializa a macheza. Carro, álcool e machão são uma mistura assassina. Sentimento de propriedade em relação a outrem, também. E quem bebe “um pouco demais” acaba por expor um pouco mais suas entranhas.
O motorista alcoolizado perdeu a noção de espaço e atropelou o equilibrista da motocicleta. O barman, prejudicado em sua capacidade de julgamento, ou por homofobia, perdeu o equilíbrio.
Bêbados não podem ser equilibristas.