A política é como nuvem, filosofou Magalhães Pinto. “Você olha e ela está de um jeito; olha de novo e ela já mudou”. Apesar de assumir este alto risco inerente ao negócio divinatório, já estou vislumbrando o futuro para lançar meus achares.
Eduardo Leite, com o apoio velado do PT e dos funcionários públicos que classificaram o governador como o pior da história, vence o segundo turno gaúcho. Lula confirma a vitória do primeiro turno e se torna o primeiro presidente a, pelo menos, iniciar um terceiro mandato. São possibilidades, são possibilidades.
Leite eleito, não terminará o mandato outra vez. O governo será concluído pelo vice, Gabriel Souza (MDB). O governador disputará a eleição presidencial de 2026, agora sem as sombras das entidades que incorporavam o PSDB, como o próprio Geraldo Alckmin que “lulou” e trocou para o PSB, João Dória, e outros, como o inesquecível netinho traquinas do Tancredo Neves, o Aécinho. As pretensões lácteas (adjetivo relativo a Leite, gente!) serão turbinadas conforme bem se desempenhar neste hipotético segundo mandato.
A campanha de Ônix Lorenzoni, vencedor do primeiro turno, tem batido em Leite pela renúncia ao povo gaúcho – não ao governo gaúcho – para concorrer à presidência, mesmo sabendo que oseu partido já tinha candidato homologado em convenção, o que revelaria o perfil do pelotense, que troca valores por poder. Descontando-se o apelo telúrico-sentimentalista, Ônix tem razão. Eduardo Leite quer ser presidente da República. Por este mesmo motivo, descumpre a palavra empenhada de não buscar reeleição. Leite precisa se manter no poder e, logo, nas mídias para viabilizar sua candidatura em 2026. Se lograr se eleger em 30 de outubro, seu plano começa a escalar.
Lula não pretende buscar a reeleição caso seja eleito no penúltimo dia deste outubro que corre. Alega a idade que então completará. Pode não ser argumento suficiente. Caso não se lance à reeleição, Lula não terá sucessor viável no PT e, dificilmente, em todo o espectro da esquerda. Isto poderá convencê-lo de que oitenta anos é o que se chama de melhor idade.
Antes de 2026, entretanto, Lula terá de enfrentar a maioria conservadora na Câmara e no Senado. A levar-se em conta a atual disposição, os recentemente eleitos e reeleitos deputados e senadores não facilitarão a agenda de Lula, o que pode levar a um desgaste contínuo do presidente e de seu governo, aumentando as chances de um candidato de oposição no longínquo 2026. Um novo mensalão que suportasse o chamado presidencialismo de coalisão dependeria de o quão verdadeira é a vontade de combater a corrupção que trazem consigo os mortais inimigos do petismo.
Retomando o livre pensar, é provável que Eduardo Leite seja uma candidatura viável para a próxima corrida presidencial. Mas, não será como a corrida dos cavalinhos do Fantástico, em que há um franco favorito que vencerá com muitos corpos de vantagem.
Sérgio Moro vem aí. O ex-Ministro da Justiça de Bolsonaro recém se elegeu senador pelo estado do Paraná e declarou apoio ao presidente para o segundo turno, acompanhando-o ao debate do último domingo na TV Bandeirantes. Moro estará na disputa em 2026, independentemente de quem ganhar no próximo dia 30. Mas, se Bolsonaro vencer, então Sérgio Moro será o próximo presidente da República Federativa do Brasil. Como o Inter na corrida dos cavalinhos, Eduardo Leite chegará em segundo, a inalcançáveis pontos do primeiro colocado.
A nuvem não está disposta assim ainda. Mas, em 2026, quando olharmos para ela de novo, poderá parecer este bichinho que estou desenhando agora.