Não abunda a vacina

Outro dia, em um programa da TVMON do qual participo, discutia-se o insuficiente número de vacinas ofertado mundialmente, e a consequente necessidade de os sistemas de saúde priorizarem os chamados grupos de risco, aqueles cujas consequências da doença são mais nefastos. Se ainda não tem vacina para todos, os mais frágeis primeiro.
Nos grupos prioritários foram incluídos, justamente, os profissionais da área da saúde, expostos ao vírus em seus ambientes de trabalho. Como trabalhadores em área de saúde se incluiu educadores físicos, por exemplo, algo questionável, pois este profissional não se expõe mais que um caixa de supermercado. Não é por menos que discussões se estabelecem, com propostas de que certas categorias deveriam ser incluídas no rol das prioridades de vacinação. E, daí, tudo vira GreNal.

As contendas atingem as raias da insensatez, que é ranquear as ocupações por importância, como se pudesse haver uma profissão mais importante que outra. A Economia não é puxada por uma profissão, senão por todas.
O fato é que todos devem ser vacinados, mas faltam vacinas. Elas chegam como novos episódios de séries de streaming: por temporadas. A partir deste dado, as autoridades criam as estratégias de vacinação, impedindo a síndrome da escassez: farinha pouca, meu pirão primeiro. E não faltaram casos nestes brasis, de dondoca esposa de político receber sua vacininha antes da vovó.

Se a vacinação não é suficiente, ainda, para tirar o vírus de circulação, adotam-se outras medidas para dificultar-lhe a vida. Uso de máscaras, higienização constante das mãos, isolamento social. O isolamento social, por mais efetivo e menos respeitado, leva a imposições governamentais de fechamento do comércio não essencial, do impedimento de aglomerações e de restrição aos cidadãos. Por paradoxal que seja, os governantes querem o retorno de crianças e professores para as salas de aula. Chamem o Taffarel para defender o indefensável, pois o Paulo Vitor não serve.

A diferença entre remédio e veneno é unicamente a dose. Comércio fechado gera prejuízos e quebradeira. Que gera desemprego que gera inadimplência. Que gera quebradeira. De quem? Dos mais vulneráveis, os pequenos.
Aí, se coloca a espada de Dâmocles, suspensa por um fio de cola de cavalo, sobre a cabeça dos governantes. É a hora em que as benesses do cargo são sopesadas com as responsabilidades, às vezes impopulares.

A grande pergunta que se faz é a mais simples. É possível domar a pandemia sem empobrecer a nação, quando falta a vacina? Como manter a economia girando quando seus atores – comerciantes, comerciários, consumidores – estão alijados de suas fontes de renda?

A falta de vacinas nos levou a esta falsa dicotomia.
A população economicamente ativa precisa urgentemente ser imunizada. Naquele citado programa de TV de que já lhes falei, propugnei pela priorização da vacinação aos trabalhadores da saúde, professores e alunos do ensino fundamental, do comércio essencial (os pequenos comerciantes são essenciais para a roda econômica), enfim, daqueles que têm que sair para a rua para levar pão para casa, expondo-se ao vírus maldito. E os velhinhos? Os velhinhos ficam em casa, aguardando a hora da liberdade. Alguns dos circunstantes abriram os olhos, do tamanho de um pila. Ausência de compaixão? Não, estratégia lógica.

Países como a Indonésia, optaram por imunizar primeiro aqueles “que saem de casa e depois à noite voltam para casa, para suas famílias “.O ministro da Saúde do país, Budi Gunadi Sadikin, defendeu a estratégia e insiste que não se trata apenas da economia, mas de “proteger as pessoas e visar primeiro aqueles que provavelmente a pegarão e espalharão”.
Controlar a pandemia e manter a economia, nesta vida tudo tem jeito. Só não há jeito para a morte.

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