Não sei se ainda tem grande audiência, mas há décadas era comum que veículos de comunicação, especialmente rádios e jornais, mantivessem espaços para o horóscopo como forma de atrair e reter a atenção do público.
Como locutor apresentador de programas de rádio, eu não deixava de lado o que era mandatório e apresentava um quadro de previsão astrológica. Os presságios eram lidos das colunas dos jornais diários quando disponíveis. Quando faltavam os jornais, as previsões eram feitas de improviso, sem a devida consulta aos astros regentes. Os apresentadores mantínhamos afixada sobre a mesa do estúdio uma tabelinha com os signos do zodíaco e seus respectivos períodos do calendário, porque isto não se podia inventar. Todo mundo sabe o período de seu signo.
Assim, anunciava com a solenidade que requer um prognóstico sobre a vida de outrem: “atenção nascidos entre 21 de março a 20 de abril, presságios para quem é do signo de Áries”. E me puxava na criatividade para sentenciar os arianos e arianas que me ouviam. Mesmo para um locutor de rádio, para o melhor exercício irregular da vidência, é mister possuir um mínimo conhecimento das carências humanas de modo a preenchê-las com a lábia dos charlatães. Todos sabemos que a humanidade caminha em busca de amor, de saúde, de dinheiro. A ordem dos fatores pode não ser exatamente esta, mas o produto não se altera.
Então, um presságio para qualquer signo, poderia ser: “o dia hoje é propício para novos encontros. Uma amizade recente poderá se transformar em uma grande paixão. Evite ambientes estressantes e pessoas tóxicas para o bem de sua saúde emocional. Uma oferta de trabalho surgirá e você não deve recusá-la sem antes consultar um mentor de carreira”. Pronto, pronto. Audiência garantida porque todas as necessidades dos ouvintes foram atendidas. Mal não fazia.
De outros anos para cá, – alguém fez uma vez e se tornou habitual -, a mídia resolveu abrir espaço para oráculos que se dedicam às previsões para todo o novo ano, com consulta às cartas, aos búzios, à numerologia e que tais. Não há quem não tenha o seu guru para prever os acontecimentos do ano entrante. Fazem-se previsões tão genéricas que é mais fácil interpretar as profecias de Nostradamus. Um artista famoso partirá desta para melhor; outro porá fim a um relacionamento; a natureza cobrará seu preço pelo tratamento que recebe do homem; o Papa enfrentará problemas de saúde (ou o Sílvio Santos; ou o Roberto Carlos. Enfim, qualquer um dos octa e nonagenários que resistiram a 2022). Não há programa de variedades e, mesmo, jornalísticos que não traga videntes especialistas em adivinhações para os anos-novos dos últimos vinte ou trinta anos.
Evidentemente, horóscopos e divinações não são práticas recentes, contemporâneas das mídias modernas. Desde os mais priscos tempos o homem se dedica às mais variadas técnicas na tentativa de antecipar o porvir. Para quê? Quem sabe para que pudéssemos nos planejar para o enfrentamento das coisas que nos sobreviriam. Para quê? Não se sabe.
Se há algo que já se devia saber com a sucessão dos anos é que nada haverá de novo e previsões especulativas não são necessárias. Amores, saúde e dinheiro são conquistas que só dependem de empenho. Muito empenho próprio. Feliz 25.