“E esse janeiro que não termina?” Eu, de fato, não havia percebido que o primeiro mês do ano estivesse se prolongando além das expectativas e dos calendários, mas se aquele vivente de tantos janeiros e fevereiros e marços estava impressionado pelo fato, decerto havia algo a se considerar. Ocorreu-me, confesso, lhe perguntar mais formalmente:“que base há para essa sua sensação?” Mas o que me saiu da boca:“Côsa de louco! Que janeiro mais grande!” Era apenas um quebra-gelo entre um frentista e um condutor abastecendo seu carro e o assunto não se prolongou. Só depois percebi que o fato já havia se tornado méme da internet com famosos e comunzinhos fazendo graça com o interminável mês de janeiro.
Entretanto, saí do posto de combustíveis noiado em tentar enumerar as possíveis causas para que o tempo se estanque na impressão de algumas pessoas.
Há o fato de que janeiros, normalmente, são tórridos e exasperantes quando se necessita manter as rotinas diárias na cidade e no trabalho. Então, seriam os ressentidos por não poderem gozar de férias no período os que viralizaram a fake news de que janeiro se estendia além do seu limite, ansiosos pelo fevereiro nas praias. Porém, este janeiro sofreu da síndrome de El Niño e não foi um mês quente – aliás frio e muito chuvoso. Teria sido o inverso, então? Por não ser um tradicional mês pé-na-areia pareceu interminável? Ninguém explicava o porquê. Fui abeberar-me em fontes mais confiáveis do que os meros pareceres populares.
“Existe realmente a percepção de que janeiro é um mês que demora muito a passar. É uma sensação comum a muitas pessoas e pensa-se que possa estar relacionado com a agitação típica do mês de dezembro, um período que provoca ansiedade em muitos de nós”, diz a psicóloga portuguesa Teresa Feijão. Por outro lado,“janeiro é um mês de ‘recuperação’, uma procura por um acalmar da correria, um acerto de finanças e também uma consciencialização de um início de uma nova etapa”, o que “leva a um maior foco, pressão e ansiedade com o compromisso com as resoluções definidas no final do ano e isso também aumenta a sensação de ser um mês interminável”, diz.
Na ótica da psicóloga, a percepção do tempo é um “bom termômetro emocional”.“Quando estamos entusiasmados ou envolvidos em algo significativo pode parecer que o tempo passa mais depressa. Por outro lado, em situações de tédio ou de ansiedade, o tempo pode parecer demorar a passar e parte da questão está na área do cérebro responsável pelas emoções”, reforça Teresa Feijão, explicando que,“quando concretizamos um desejo, é liberada dopamina, um neurotransmissor que aumenta a sensação de bem-estar. E são os níveis de dopamina no organismo que influenciam a nossa percepção do tempo, sendo que quando aumentam, também aumenta a sensação de que o tempo passa mais rapidamente. Quanto maior a ansiedade, maior a sensação de que o tempo não passa”.
A teoria da doutora portuguesa é mais completa e mais complexa, mas não nega aquela que defendo, de alto teor psicológico, também. Quem desdenhou o janeiro brasileiro criando a versão interminável, foram os inconsoláveis que não puderam gozar férias desde o ano-novo, e esperavam exasperados o fevereiro libertador. Não lhes parece?