Lembro-me de um texto de um livro didático de Inglês que contava a história de um jovem que fora visitar Mozart e lhe perguntou sobre como compor uma sinfonia. “Tente alguma coisa mais fácil” – respondeu o genial compositor, imediatamente retaliado pela indômita juventude do rapazote: “mas o senhor compôs uma sinfonia quando tinha apenas 8 anos”.
– Sim, concordou Mozart, mas eu não perguntei a ninguém como compô-la.
Todas as pessoas são dotadas de alguma inteligência. Pelé e Messi são exemplos de inteligência motora e espacial que os tornaram deuses do futebol. Não queiramos saber deles como se joga futebol. Não terão uma teoria para nos entregar. Não tentemos, também, arrancar-lhes opinião sobre arte, filosofia, política ou mesmo sobre futebol tático. A inteligência linguística não lhes é afeta.
Da mesma forma, Chico Buarque é um artista e intelectual (sim, a maioria dos artistas não é intelectual), cuja capacidade linguística é notória, embora seja famoso o seu apego ao futebol.
Chico é um Pelé das letras: domina as palavras como Pelé dominava a bola. E Pelé, o anverso.E as coisas não se misturam.
Somos felizes quando podemos viver daquilo que melhor sabemos fazer e, por esse motivo, nos dá prazer. E quando sabemos que sabemos fazer? Quando desenvolvemos nossas próprias formas de fazer, nossos próprios métodos, e cumprimos nossos misteres com excelência, reconhecidamente. Não adianta a receita da vovó. Provavelmente o que transformava a cuca que a vovó fazia na inesquecível cuca da vovó, não era a receita (sempre tão igual): era o prazer que a vovó sentia ao fazer e entregar o seu melhor.
Não resta dúvida de que há algumas pessoas que nasceram para a Política. São líderes naturais, de inteligência interpessoal dominante, capazes de não só participar com proeminência da política partidária, como da atividade humana, presente em casa, na escola, no trabalho, na família. Muitos desses são reconhecidamente estadistas, homens de estado, “pessoa ativamente envolvida em conduzir os negócios de um governo ou moldar a sua política”, como define o dicionário. E, para não fugirmos do clichê, tomemos Winston Churchill como exemplo. Há muitos outros, em todas as esferas de poder, em todos os quadrantes, em maior ou menor grau. Políticos, com P maiúsculo.
Cá, à sombra do morro São João, lançadas as candidaturas às eleições de 15 de novembro, majoritárias e proporcionais, apresentam-se-nos os aspirantes à Câmara e ao Palácio, invadindo privacidades, acossando transeuntes, insinuando-se em convites de amizade em redes sociais.
Aí, aparecem, mais raramente, Mozarts, Pelés e Chicos Buarques. E, a magote, Tiriricas, Jardéis e macacos Tião. Desafortunadamente. Passam mosquitos e camelos pelo coador dos partidos políticos.
Gente sem nenhuma condição de legislar, fiscalizar ou governar, oferece-se ao sufrágio popular. Gente que faria melhor se fosse cumprir sua missão, sua vocação, qualquer que seja, e com não menos dignidade, do que cobiçar um emprego que pode lhe pagar R$ 6 mil mensais, mas cuja seleção e recrutamento é cargo de muitas pessoas que também não têm trabalho e renda.
Deveriam tentar alguma coisa mais fácil.