Eu não sou fake

A vereadora Ana Paula Machado acreditava que eu era um personagem fake nas redes sociais. Isto há algum tempo, quando era a assessora parlamentar do vereador Carlos de Mello, Naná. Por algum motivo, eu não tinha foto de perfil e este fato reforçava a desconfiança da lugar-tenente do Naná, sempre ciosa das coisas do gabinete, inclusive no que poderia afetar a popularidade do parlamentar de Santos Reis, como críticas em redes sociais. Não lembro se alguma vez critiquei o trabalho do vereador, possivelmente sim. Ou se o elogiei, talvez. Mas, a atual vereadora me considerava um fake. Contou-me a história quando, outro dia, participamos juntos de um programa da TVMON HD.

Muita gente me considerava um personagem fake. Discreto como um urutau, aquela ave que se disfarça de tronco para não ser percebida, não costumo circular nas rodas sociais ou políticas. Uma geração mais antiga me conheceu das escolas, festas e como radialista lá pelos fins dos setenta, início dos 80. Quando deixei o rádio para me dedicar à petroquímica, desapareci. Portanto, não é culpa da vereadora Ana Paula pensar que aquele cidadão que se manifestava pelas redes sociais sem uma foto de perfil, fosse um inominável falsário. Eu também não conhecia a vereadora, mas sabia da existência real dela. Na última campanha eleitoral o nome da antiga assessora se materializou na persona que vem tentando se consolidar, eleita, como atriz social e política na quase sesquicentenária capital de tantas coisas e, ao mesmo tempo, de nada. Ana Paula busca sua identidade e, quem sabe, possa nos levar a descobrir a nossa própria, como cidade, localidade, sociedade. Somos a capital de quê, mesmo?

Ana Paula pertence aos quadros do PTB, partido à testa da Prefeitura, e participou do “palanque” dos atuais prefeito e vice, Gustavo Zanatta e Cristiano Von Braatz. No programa de governo da coligação que elegeu os mandatários, no item 5- Meio Ambiente, constam genéricas promessas tais como “implementar políticas públicas de defesa dos animais, firmar parcerias com entidades ligadas ao bem-estar animal, para controle habitacional dos animais e estruturação de casa de passagem, promover meios para recolhimento de animais de rua.”

A vereadora se comprometeu com esta causa ao firmar seu apoio à chapa que se elegeu em novembro passado.
Por mais que esteja contemplado no plano de governo, o gabinete executivo ainda não conseguiu se voltar para a causa. Está tentando uma cidade nova, por enquanto, sem cirurgias invasivas, apenas com “makes divinas”, como falam as bloguerinhas. Às vezes, incisões profundas são necessárias para salvar vidas.

Ana Paula Machado não pode esperar as delongas oficiais da máquina pública. Se a porca gorda é lenta, como de fato o é a Administração Pública, em que nada é para hoje, a vereadora precisa tornar autêntico e crível a sua plataforma que, em verdade, deve refletir o seu pensamento. Para deixar as abstrações do pensamento e demonstrar pragmatismo, só há uma forma: agregar ação às palavras. É o que está fazendo a novel legisladora.

A vereadora Ana Paula está promovendo ação que visa motivar a cidadania a prevenir a superpopulação de animais de rua por meio de castração cirúrgica. O gabinete da vereadora está cadastrando pessoas interessadas em castrar seu pet. Serão sorteados para castração, dois cães e um gato fêmeos mensalmente, desde que não sejam de raça. Não se trata de discriminação animal. Animais de raça, normalmente, tem família capaz de mantê-los. Como diria Milton Friedman, economista americano, “não existe almoço grátis”. Alguém terá de financiar as castrações que fará o projeto SOS Amigo Animal. Segundo a divulgação do projeto em redes sociais, parte dos custos sairão dos bolsos do pessoal do gabinete e parte será custeada por vendas de roupas doadas, em brechós a serem organizados.

A vereadora busca ser relevante para o seu eleitorado e público em geral. Mais do que postar fotos austeras em redes sociais, assinando requerimentos e indicações ao Executivo, como se o valor desses documentos não fosse apenas o peso do apoio político, Ana Paula Machado mete a mão no bolso para cumprir suas promessas de campanha. Talvez seja o que há de novo na política local.
É a diferença entre autêntico e “fake”.

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