Estamos falando demais

“O mundo está cheio de falantes. Você se depara com eles o tempo todo. Eles são aquela peste no escritório que destrói toda segunda-feira contando cada coisa banal que fizeram no fim de semana. Eles são aquele idiota que fala por cima de todo mundo em um jantar enquanto o resto de vocês fantasia sobre colocar cicuta em seu pinotnoir. Eles são o vizinho que aparece sem ser convidado e passa uma hora contando histórias que você já ouviu, o arrogante sabe-tudo que interrompe colegas em reuniões, o CEO cujo tweet imprudente o leva a ser acusado de fraude de valores mobiliários. E nem me fale sobre o príncipe britânico que usa incessantemente a imprensa para divulgar sua mensagem criticando a imprensa. Para ser honesto, eles são a maioria de nós.”

O texto é a introdução de um capítulo do livro STFU: O Poder de Manter Sua Boca Fechada em um Mundo Infinitamente Barulhento, escrito por Dan Lyons, a ser publicado nos Estados Unidos em 7 de março de 2023. A revista Timeem sua edição de janeiro, antecipou um excerto da obra. STFU é a abreviatura do inglês “shutthefuckup”que, mal traduzido, seria “cale a p*rra desta boca”.

Dan Lyons, escritor americano que já foi editor sênior da revista Forbes e escrevia para a Newsweek, publicações que dispensam salamaleicos, se confessa um “conversador” que colecionou prejuízos pessoais por falar demais. Perdeu um emprego e a promessa de milhões de dólares. Pior, sua falta de controle dos impulsos falatórios o levou a uma separação da esposa e quase lhe custou o casamento. Foi então, vivendo sozinho em uma casa alugada, longe da esposa e filhos, que reconheceu que o excesso de conversa estava interferindo em sua vida.
Para Lyons,“vivemos em um mundo que não apenas incentiva o overtalking (muita falação, tradução minha), mas praticamente o exige, onde o sucesso é medido por quanta atenção podemos atrair: obter um milhão de seguidores no Twitter, tornar-se um influenciador do Instagram, fazer um vídeo viral, dar uma palestra TED”.

No inédito livro, o autor contrapõe as pessoas mais poderosas e bem-sucedidas à massa dos muito-falantes e conclui que, aqueles, fazem exatamente o oposto. Em vez de buscar atenção, eles se contêm. Quando eles falam, eles são cuidadosos com o que dizem. E demonstra que pode haver, se não cura, pelo menos auto-controle com relação à verborragia. Cita o exemplo de Joe Biden que “durante quatro décadas, foi o Rei das Gafes, mas em 2020 encontrou a disciplina da campanha para manter a voz baixa e as respostas curtas, para fazer uma pausa antes de falar e dar respostas aborrecidas; agora ele é presidente”.

Segundo entrevistas de Lyons com especialistas, falar muito, ou pouco, é biológico. Deve-se ao lado do cérebro – esquerdo ou direito – que mais usamos para falar. Então, não há tratamento. A mitigação do problema se dará por autocontrole e exercício do silêncio.
Falastrões sempre existimos. Muito antes da tecnologia proporcionar a exposição geral de nossos discursos, o sábio rei Salomão (990–931 a.C.) já lecionava: “no muito falar há transgressão, mas o que modera os lábios é prudente”. Shut the fuck up, meu povo.

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