A religião, a política, as artes, a ciência, só cobram sentido se, do exercício delas, o bom e o bem for ofertados a todos, indistintamente. Não se espera que a totalidade das gentes usufruam, ou tenham consciência de que podem usufruir, mas a oferta tem de estar lá, à disposição dos viventes.
No início dos anos 2000, tive contato com o livro “Mais Platão, menos Prozac”, do filósofo canadense Lou Marinoff. Início de novo século e milênio, angústia e ansiedade brotavam dos corações e mentes.
Como em todo ciclo que se fecha e outro – novo – que se inicia, inquietações exsurgem, fomentadas por especulações que se mostrarão infundadas ao depois, expondo a singeleza da construção psicológica da maior parte da população mundial. Geralmente, procura-se novas soluções para enfrentar velhos dilemas emocionais.
Alguns anos antes, em1988, chegavam às farmácias norte-americanas as primeiras caixas de Prozac. Revolucionou o tratamento da depressão, mais refinado e menos agressivo que seus predecessores. Bastaria uma pílula de 20 miligramas ao dia para reequilibrar o cérebro e “espantar a tristeza sem fim”. Era o início da era das happypills, as “pílulas da felicidade”. A novidade, na época, foi tratada como uma solução mágica para depressão, tristeza e a insatisfação com a vida. Hoje, o princípio ativo do Prozac, o cloridrato de fluoxetina, está disponível em medicamentos genéricos, embora a prescrição médica seja obrigatória para a compra e uso.
Nos albores do século 21, a fluoxetina já fazia parte do café da manhã de milhões de pessoas em todo o mundo, mitigando os efeitos de doenças mentais como depressão e ansiedade, se a causa fosse meramente por deficiência química cerebral.
Não nos olvidemos, contudo, que fluoxetina é droga. Somente prudência e caldo de galinha não têm contra-indicações.
Recorrer à filosofia à procura de novas perspectivas para enfrentar velhos dilemas emocionais, é a proposta do filósofo Lou Marinoff, autor de “Mais Platão, Menos Prozac!”. O autor aponta o aconselhamento filosófico como alternativa às terapias que, para ele, não passam de farmacologia neural. Marinoff acredita que a maioria dos distúrbios emocionais e comportamentais devem-se à falta de estadistas visionários e de virtude filosófica. Defende que o aconselhamento filosófico tem respostas para a maior parte das questões corriqueiras como conflitos amorosos e familiares, mudanças na carreira e até o medo da morte, que poderia evitar o tratamento químico.
O método que propõe Marinoff, consiste em identificar o problema, expressar emoções de forma construtiva, analisar as opções, contemplar uma filosofia que ajude a pessoa escolher e viver com a melhor opção e, finalmente, resgatar o equilíbrio pessoal.
“Praticar filosofia significa explorar o seu universo interior. Você é a pessoa mais qualificada para empreender essa viagem de autodescoberta, escreveu o autor, destacando que cada um de nós tem a resposta para os problemas que enfrenta, basta despertar a filosofia pessoal.”
Marinoff não goza de unanimidade entre psicólogos ou entre seus pares. No entanto, a sabedoria do rei Salomão, quase mil anos a. C., já filosofava sobre não haver nada de novo sob o sol, é dizer, que tudo se repete aos ciclos, incluindo os problemas e suassoluções.Ou seja, não há futuro totalmente desconhecido para que morramos de ansiedade mórbida.
Buscar o conhecimento dos filósofos e sábios antigos pode nos garantir um futuro mental mais sadio e menos químico.