Das amizades e do pragmatismo

Nunca conquistei tantas amizades virtuais quanto nos últimos meses. Todos os dias recebia inúmeros convites para as rodas de amigos das redes sociais. Eu que sempre senti certo receio de convidar e ser invasivo, oferecer-me a amizades sem que houvesse intenção de reciprocidade da outra parte. Estou popular, pensei, finalmente. Ledo engano.

Eram políticos, candidatos, parentes de candidatos, ou seus assessores para assuntos falso-amistosos-para-abiscoitar-o-meu-voto. Certo, não foram conquistas pelo meu charme e inteligência, mas, à medida do possível, conservá-las-ei. Amizades são amizades.

Na segunda-feira seguinte à eleição, o Facebook freneticamente avisava que minhas novas diletas amizades estavam trocando suas fotos de perfil. Súbito, pensei se tratar de alguma atividade especial patrocinada pela rede social que levasse à viral necessidade de se cambiar fotos ou avatares. Necas de pitibiribas. Eram os perfis que traziam propaganda de partidos e candidatos os que desapareceram, trazendo de volta os simpáticos sorrisos posados de minhas amizades. Por inferência, constatei que os mutantes não estavam entre os que comemoravam os resultados das urnas. Queriam legar ao esquecimento suas candidaturas ou apoios derrotados.

O prefeito eleito trata, agora, de montar seu governo. É nessa hora que os currículos são atualizados.
Sintomático que a primeira secretaria a ter sua titular nomeada seja a da Educação. E a segunda, também mulher, a da Saúde. Seriam sinalizações daquilo que Zanatta priorizará em seu mandato: educação e saúde? Pode ser. Pode não ser. Tomara que seja.

É normal e aceitável que os partidos, candidatos e apoiadores que compuseram a coligação vitoriosa proponham seus quadros para ocuparem os cargos comissionados que, a se considerar promessas de campanha, serão em menor número na administração Zanatta-Von Braatz.
Então, foi dada a largada para os 100 metros rasos que disputam um carguinho na Administração. Acompanhemos os que vêm por aí.

De se esperar que o novo governo, que nos propõe uma nova cidade, selecione quadros capacitados para as vagas que remanescerem depois dos cortes prometidos.

Assim como o monte Parnaso é dos poetas sonhadores, o mundo real é dos pragmáticos, aqueles hábeis em negócios e política. Haverá conversões pelo caminho. Há gente adicta em empreguinhos fáceis, que têm crises de abstinência quando os perdem. Entregariam a alma, suas ideologias, seus partidos, para reavê-los. E há os que, eleitos para a Câmara, necessitam metabolicamente dos favores do Poder para manterem as energias.
Daí que, em exercício de profunda humanidade, compreendo minhas novas amizades virtuais.

Aquela segunda-feira em que perfis embandeirados se transmutaram em sóbrias selfies, pode ter sido o dia nacional de celebração à memória fraca. Ali podem estar alguns dos que sonham com novos caminhos e nova cidade desde criancinhas.

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