Um cronista não é um cronista se não falar ou escrever sobre o seu tempo e o seu lugar. O cronista escreve literatura leve, comenta fatos cotidianos, não busca demonstrar a profundidade e a sisudez que demandam os temas complexos, os quais nem sempre domina. O cronista não tem como missão influenciar opinião; humildemente, abre seu íntimo e revela-se excogitando sobre tudo o que lhe afeta a vida, e como lhe afeta. Isso o identifica com as pessoas que, para entender o mundo, também não se agarram a narrativas viciadas.
Histórias sempre têm mais de um lado, e o lado irônico, quando não mais, é o que desperta interesse. Não se deve confundir o cronista com humorista, mas é provável um certo parentesco. O cronista, como o verso de Renato Russo, ganha seu dia se fizer rir e pensar. Só pensar, já está de bom talhe.
O cronista fala de sua cidade e de seus entes. Não lhe escapa a política, a economia, o diz que diz dos bares, cafés, e das redes sociais provincianas, presenciais ou virtuais. Mas não aborda tais matérias como o faz o crítico, o comentarista, o doutor, ou os simulacros de todos eles. O cronista é subjetivo. Discorre sobre o que se passa no espírito. Os resultados dos exames que faz sobre todas as coisas, não são especulações: são percepções pessoais.
Assim que o cronista não precisa saber, para opinar, de todas as informações sobre os fatos – como devem os jornalistas –, pois ele intui o itinerário dos acontecimentos e o ânimo dos agentes, humaniza os monstros e os deuses, e faz-amiúde – poesia em meio a destroços.
Cronistas são desapegados de conceitos formados pelo que as coisas aparentam ser. Não se aferram a opiniões, pois opinião não faz coisa julgada, imutável e indiscutível.
Aos cronistas nos agradam mais as subjetividades individual e social do que as obviedades ululantes.
Os últimos dias viram a janela partidária se fechar. O período que se estendeu de 7 de março até 5 de abril, previsto na lei 9096/1995, art. 22-A, ensejou a troca de partido de pré-candidatos que estão no último ano de mandato, sem justa causa. Foi uma revoada migratória sem precedentes. Quando todos achamos que a saída do vereador Talis Ferreira do PP para o Podemos era o fato mais relevante, eis que Paulo Azeredo tomou o banquinho e o levou para o PSDB, deixando o PDT pendurado no pincel. O PDT montenegrino não era Azeredo, oriundo do PFL oitentista. O PDT local é Clóvis Moacir Domingues, de alcunha Cafundó, brizolista dos quatro costados. Resignado, Domingues desejou sorte ao ex-companheiro por uma rede social.
Um cronista não veria traição de Paulo Azeredo ao seu Sancho Pança. Um cronista como eu, analisaria todas as variáveis possíveis que pudessem levar ao experimentado político do Muda Boi a trocar o partido trabalhista pelo PSDB do governador Eduardo Leite, de cujas políticas de privatização e de concessões de serviços públicos e de aumentos de impostos, o vereador tanto combate.
Talvez, por esse fato, as tubulações de água potável da AEGEA-Corsan se sentiram à vontade para se romperem no fim de semana, deixando toda a cidade sem água.
Bom, são avaliações subjetivas de um inveterado cronista. Nada de certo.