Assim é, se lhe parece

Não parei para assistir entrevistas ou debate dos concorrentes ao cargo executivo mais importante do País. Como os réus em juízo, falam detalhadamente o que lhes possa beneficiar ou atenuar a sentença, mentem e omitem fatos que possam lhes imputar culpa ou dolo. Contumazes na prática, já os discursos revelam menos do que o conjunto da obra política de cada qual. Tenho lombeira ao pensar neles.

Evidentemente, ao revelar que não desperdiço mais tempo com debates e entrevistas exclusivas em horário nobre, corro o risco de ser julgado como o são os alienados de todos os gêneros. Não me importo. Metaforicamente me explico: gosto muito da arte brasileira do futebol, mas não me deteria diante da tela para assistir a promessa de um derby entre Tombense e Moto Club. Sabe-se se tratar de uma partida de futebol, mas não se espera um grande espetáculo. Não se assiste a um jogo desses mais do que uma vez. Não sou alienado. Estou seletivo.

Não bastasse a teatralidade de debates e entrevistas eleitorais, geralmente, são conduzidos e repercutidos de forma editorial pelos meios que os publicam. Em 1989, primeira eleição direta para presidente depois da ditadura militar, ficou famoso o caso em que a TV Globo editou o debate entre os dois candidatos que foram ao segundo turno, Fernando Collor e Lula, exibindo o “compacto” no telejornal do horário nobre da televisão no dia seguinte.

A Globo foi acusada de favorecer o “Caçador de Marajás”– autodenominação de Collor, do PRN – tanto na seleção dos momentos como no tempo de cada candidato. Collor teve um minuto e meio a mais do que Lula. Em defesa própria e da transparência da governança global, os editores do Jornal Nacional alegaram, conforme o site Memória Globo, que usaram o mesmo critério de edição de uma partida de futebol, da qual são selecionados os melhores momentos de cada. Para eles, “o objetivo era que ficasse claro que Collor tinha sido o vencedor do debate, pois Lula realmente havia se saído mal”. Os editores do Jornal Nacional, olímpicos, desvelaram-nos a verdade que não conseguíramos perceber durante as duas horas e meia do debate. Eram tempos anteriores ao lulinha-paz-e-amor. O Lula do PT era tão indeglutível quanto lhes é, hoje, Bolsonaro. Por motivos diferentes, claro. A Globo não é fascista nem comunista. A Globo é dos Marinho.

Como diz o padre, sociólogo e Psicólogo Social Pedrinho Guareschi (in Sociologia Crítica, 59* Edição EDIPUC), “quem detém a comunicação constrói uma realidade de acordo com seus interesses, justamente para poder garantir o poder”. Quando a esquerda e a direita se alternam para criticar o poder das empresas de comunicação de tratar as informações, euzinho da silva ponho-me a julgar, como fazia Brizola, que a questão é de interesses próprios, somente.

E se alguém me perguntar se o que falam os candidatos é verdade, responder-lhes-ei, como Pirandello: assim é, se lhe parece.

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