O jornalista Márcio Reinheimer é de Campo do Meio, interior do Município. Por um determinismo gentílico, quem sabe, não é dado às posições diametralmente opostas e extremas.
Tentou demonstrar isso durante o domingo pós segundo turno das eleições, ao postar em sua página do Facebook: “O resultado das eleições deste ano traz um recado claro dos eleitores: chega de radicalismos! Os problemas do país não serão resolvidos com discursos ideológicos exacerbados.” O ex-prefeito Luiz Américo Aldana, apeado do cargo pela Câmara de Vereadores ao fim de processo de impeachment, em comentário postado logo em seguida, acusa Márcio de estar a serviço de alguém ou de alguma coisa. “Márcio, você está ao lado do conservadorismo. É o teu papel defender as oligarquias históricas do Brasil.”
Não é incomum que as histórias dos profissionais de frente se confundam com as histórias dos meios em que trabalham.
Ao ter um direito de resposta garantido pela Justiça contra a Rede Globo, em 1992, Leonel Brizola usou de sua verve matreira ao comentar o assunto, dizendo que sentira prazer ao ver seu texto apresentado em pleno Jornal Nacional, por aquele “bugiu branco”, forma como personificou toda a matriz editorial do Grupo Globo, em Cid Moreira, um mero ledor de textos. Nos dias correntes, é William Bonner quem tem que tomar cuidados protetivos para não ser agredido pelos extremistas de direita e de esquerda, quando incomodados pelo que veicula o Jornal Nacional, o porta-voz oficial do que chamam, unanimemente, de “Globo lixo”.
Márcio Reinheimer comemorou, recentemente, 30 anos de carreira, todos dedicados ao Jornal Ibiá. O jornal “das gurias”, como foi chamado no início, foi fundado por duas estudantes de Comunicação, em 1983. Mara Rúbia Flores e Maria Luíza Szulczewski, a Lica, empreenderam em tempos em que, às mulheres, lhes cabiam o emprego sub-remunerado e não a fundação ou gestão de empresas, especialmente na área das comunicações. Foram injuriadas, acusadas de receberem patrocínios de empresários e políticos interessados em usarem o jornal como imprensa oficial próprias. Resistiram e são um caso de sucesso empresarial e editorial.
Nunca alguém lhes perguntou se são conservadoras ou servis às oligarquias, mas posso fazê-lo oportunamente. O que se sabe é que Márcio se desenvolveu e assumiu cargos importantes na redação. Hoje, é editor de política. A coluna Cenário Político que escreve semanalmente, é leitura obrigatória para os papos de cafés e, não raramente, vão à tribuna da Câmara como peça acusatória ou absolvitória das ações dos vereadores, que a brandem, dizendo “o Márcio”. As críticas e ataques ao que escreve, ou à linha editorial do Ibiá, são a eles dirigidas, raramente às “gurias” .
O ex-prefeito o atacou desproporcionalmente, o que afasta a legítima defesa própria ou de terceiros.
O Márcio é o Ibiá, para-brisa e retrovisor. Confundem-se.
Mas, se há uma cláusula pétrea no universo, perpétua e inamovível, é aquela que garante que tudo passa, tudo se transforma, que a única constante é a mudança. A vida é feita de ciclos, de ondas, como diria o Lulu Santos.
Não lhe perguntei, mas devo me permitir especular, se Márcio Reinheimer, aos 30 anos de profissão, se não estão seus nos planos uma transição de carreira.
Quem sabe, deixar o reconfortante colo do jornal das gurias para o desafio de acompanhar a jornada dos guris. Que tal?