A operação de indústrias petroquímicas, cujas complexidades tecnológicas são proporcionais aos perigos e riscos ligados aos seus processos, demanda uma série de estudos ligados aos projetos, visando minimizar as probabilidades de ocorrências que possam afetar a segurança de pessoas e equipamentos, ou a produção eficiente. Ao pessoal responsável por tais plantas é proporcionado treinamento contínuo para atuação preventiva ou corretiva diante de diferentes anormalidades. Geralmente, as emergências são controladas e não se lê notícias todos os dias sobre catástrofes industriais.
Como toda a profissão, a petroquímica também tem seus jargões e piadas autorreferentes. Desde que iniciei a carreira (acho que foi logo após a última era glacial), há um motejo entre os operadores que considera os casos em que uma emergência possa escalar e não haja mais procedimento operacional seguro a se cumprir para evitar-se um grande acidente tecnológico. Nestes casos, deve-se apertar o botão do “f*da-se” e sair correndo para a portaria. Como toda piada, exagerada.
Mark Manson, escritor e blogueiro americano, resolveu desbancar os livros clichês de autoajuda e escreveu em 2016 um livro de … autoajuda. “A Sutil Arte de Ligar o F*da-se” foi lançado no ano seguinte no Brasil e, desde lá, segue na lista dos mais vendidos.
Mason pretende demonstrar que podemos nos autoajudar tomando a pista contrária da rodovia traçada pelos engenheiros da autoajuda. Os gurus-padrão tentam nos ensinar as artes de fazer acontecer, de enriquecer, do sucesso, a escada para o triunfo, e tantas outras artes para que possamos nos dar bem. Dar-se bem na vida para todos estes que se deram bem vendendo livros de autoajuda para os que querem se dar bem, é ser feliz full-time. E ser feliz é ser rico, admirado, endinheirado, de saúde inabalável, shape fitness, como aparentam os coachs e digital influencers das redes sociais. O negócio dessa gente é a base da cultura do consumo, que é criar necessidades onde não haveria necessidade. As coisas que se tornam socialmente obrigatórias, aquelas feitas mais para agradar os outros do que a nós mesmos, como a busca pela fama e dinheiro, geram ansiedade que gera mais ansiedade e preocupação, o que Manson chama de Círculo Vicioso Infernal. E isto não é vida.
Qual é a ajuda que Mason deseja nos dar, então, diferentemente dos demais gurus? “Nossa cultura absorveu a crença de que todos nós estamos destinados a fazer algo extraordinário. Ser comum se tornou o novo padrão do fracasso. Essa é uma ideia perigosa. Gera a pressão de sermos incríveis e inovadores para termos valor”, ensina.
“O mundo não cansa de indicar um caminho para a felicidade que se resume a mais e mais e mais: compre mais, tenha mais, faça mais, transe mais, seja mais. […] O segredo para uma vida melhor não é precisar de mais coisas; é se importar com menos, e apenas com o que é verdadeiro, imediato e importante”. E o que é o botão aquele que devemos ligar? O autor sabe que o conceito – de ligar o botão – pode parecer ridículo e que talvez soe como um babaca, “mas estou falando de aprender a direcionar e priorizar seus pensamentos, escolhendo o que é importante e o que não é. Parar de se importar com tudo e com todos.”
Quando o sofrimento psicológico pela luta inglória de nos tornarmos os fodões da espécie é grande a ponto de nos consumir, ligar o f*da-se e levar uma vida mais comum pode nos curar.
A outra saída é correr para a portaria.