Ao léu do vento

Ontem, 24, o icônico cantor e compositor norte-americano, Bob Dylan, cumpriu 80 anos. Em sessenta anos de carreira vendeu cerca de 125 milhões de discos.Em 2016 venceu (sem vontade de competir) o Prêmio Nobel de Literatura “por ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição americana da canção”. Para manter a fama de desapegado da fama, Dylan fez docinho e não compareceu à solene cerimônia de entrega do prêmio no dia 10 de dezembro de 2016. Seis meses depois, a Academia Sueca advertiu o cantor e compositor de que ele tinha até junho de 2017 para fazer um discurso de aceitação e, assim, receber o prêmio de oito milhões de coroas suecas, equivalentes a 839 mil euros. Multipliquemos os euros por 6,5 reais brasileiros e entenderemos por que se vergam as vigas.

Bob Dylan não criou a canção de protesto nem o folk, mas, como ninguém, encarnou o movimento musical antiguerra dos anos 60, o espírito hippyee off-road que afetou muitas gerações desde então. Para Eduardo “Peninha” Bueno, um rebelde com causa. Ou, causas.

Uma certa sonoridade vocal, fanhosa, talvez não o recomendasse, hoje, em audições seletivas dos programas televisivos Ídolos ou The Voice. Como o nosso Belchior, tanto fanhoso como genial.
Dylan não faz a glorificação do passado, mas mantém atuais suas reivindicações sociais, raciais, antifascistas, contrárias às guerras, contra o genocídio de índios.Enaltece a quem“luta contra o ódio/ para que o mundo possa ser livre”.

Bob Dylan aproveitou o isolamento compulsório ditado pela covid-19 para lançar o inédito RoughandRowdyWays, em que ele resume em Murder Most Full, canção de 17 minutos, a história e cultura americanas.Para quem vive oitenta anos como uma pedra rolante, o bardo de Minnesota deixou-se apegar do limo.

“Em nossa idade, temos a tendência de viver no passado, mas isso somos nós. Os jovens não têm essa tendência. Eles não têm passado”, disse em recente e bissexta entrevista. “Mas, eles não deveriam se importar menos”.

Os temas que inspiraram as canções de Bob Dylan estão entre nós, hoje, como se projetados sobre o palco 2021 em forma de hologramas. Mas, não. São reais e atuais, e não deveriam estar alijados das discussões e preocupações dos novinhos e novinhas.

Novidade tanto para um octogenário como para um millenial, Bob Dylan acredita sobre a pandemia, que “é um indicador de algo mais por vir. A arrogância extrema pode ter penas desastrosas. Talvez estejamos à beira da destruição. Eu acho que devemos deixar este vírus seguir o seu curso.” Como uma pedra rolante, Bob?

O que Bob Dylan fez melhor ao longo de sua vida e carreira (se é que não se confundem) foi perguntar e não responder.

“Por quantos caminhos um homem precisa andar / antes que possa ser chamado de homem? / Quantos mares uma pomba branca precisa sobrevoar / Antes que possa descansar na areia? / Sim, e quantas balas de canhão precisam voar / Até serem banidas para sempre?
Não sabemos, Bob, tu e eu. Será que as respostas, como folhas outonais, voam ao vento?

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