Luiz Américo Alves Aldana só fez inimigos quando esteve político. Durante toda sua vida pregressa e posterior aos cargos que ocupou, só conquistou e cultivou amizades. Há pessoas especiais que não deveriam entrar para a política partidária. Não se sai sem lesões dessa arena.
Homem de idéias, o Paraguaio também era um dreammer. Pensava que com a militância política poderia servir melhor à sua cidade adotiva. Envolveu-se com lobos rapaces travestidos de ovelhas. A passagem pela prefeitura não é o principal capítulo de sua biografia.
Paraguaio era o ponteiro-esquerdo baixinho e veloz, capaz de dribles e gols artísticos. Era o jubilado acadêmico de Direito que precisou trocar de Universidade para se formar. Uma noite o encontrei no“xerox” da Ulbra. Não o via há bastante tempo e para quebrar o gelo lhe perguntei se estava ali cursando uma pós-graduação.“Que nada! A Unisinos me jubilou. Estou aqui para terminar a graduação, mesmo.”Era o artista boêmio querido por todos. Não sobrava muito tempo para a faculdade.
Não tinha desafetos o Paraguaio. Era um homem bom com sangue nas veias. Reagia forte quando a ocasião o exigisse. Foi assim quando estava em cargo político. Secretário da Educação, teve séria explosão colérica com docentes municipais. Logo ele que sabia o exato valor que têm os professores.
Amou Montenegro sem esquecer a sua São Gabriel natal. Pela rede social, semana passada, planejava uma visita à Terra dos Marechais.
Quando conversávamos, viajávamos pela cultura geral, pela Filosofia de botequim. Divagações que, findas ou interrompidas, geravam a promessa de um jantar para continuar o papo. Quando o entrevistei algumas vezes, nossa prolixidade acelerava o tempo. Nenhum programa era suficientemente grande para nós conter ou para esgotarmos os assuntos. Em um encontro, iniciamos a trocar pensamentos sobre se pode haver compaixão e perdão na política. Paraguaio não logrou concluir a especulação, ensejando a combinação de um encontro que incluiria o JB Teixeira do Grupo Progresso, nosso circunstante naquele momento. Nunca terminamos o assunto.
Era um homem simples, o Paraguaio. Certa vez, marcamos entrevista para o programa Varrendo a Redação no estúdio da RPM – web rádio do Jornal O Progresso. Paraguaio apareceu pilotando seu Fuscão prata, vestindo paletó, gravata e… pequenos chinelos havaianas de tiras cor-de-rosa.
De outra feita, o encontrei em um salão de cabeleireiros. Sim, ainda havia grisalhos cabelos em sua cabeça. Tirou seu indefectível chapéu Panamá e, pondo-o sobre as pernas cruzadas enquanto aguardávamos atendimento, discorreu sobre como o havia adquirido e das qualidades que um verdadeiro Panamá precisa ter para ser considerado legítimo. Tentei usar um Panamá por um tempo, mas concluí que não era para mim. Há que se ter um certo estilo para se envergar um ornamento tão simbólico e eu não tenho está personalidade.
Não nos encontramos mais depois de sua passagem pela Prefeitura. Que pena. Gostaria de terminar a divagação sobre compaixão e perdão, agora que ele próprio tornara-se vítima do ódio homicida dos incompassivos semi-deuses que disputam poder.
Teria a mágoa causado um câncer no organismo do Paraguaio? Quando a decepção chega a se somatizar assim, é porque o coração já entregou os pontos.
E foi assim. O coração levou embora o Paraguai.