A vida é uma grande Dança dos Artistas. No palco rodopiamos, ora amadoristicamente, conduzidos pelos que conhecem de fato as técnicas do bailado; ora, como condutores, quando somos o mestre e nosso partner, o aprendiz. Somos julgados o tempo todo pelo desempenho técnico e artístico; afinal, aceitamos o desafio de dançar conforme o ritmo.
Há alguns dias, o prefeito Gustavo Zanatta, ao discursar na Câmara de Vereadores, protestou contra o silêncio das pessoas de bem que se omitem e não se manifestam a respeito do desempenho da administração, ao contrário de alguns poucos que fazem barulho, derreando o governo. O prefeito, antes de tudo, deve definir o que sejam pessoas de bem e pessoas de mal. Não creio que Zanatta queira dividir, como faria Maquiavel, as pessoas em dois lados: os opositores, do mal; os apoiadores, do bem. O prefeito nunca me pareceu alguém que classifique as pessoas como boas ou más pelo que pensam. Foi um desabafo de quem, como todos nós, precisa de aprovação e acolhimento quando julgamos fazer a coisa certa e, a câmbio, recebemos algumas críticas.
Tenho percebido muita aprovação ao governo Zanatta entre meus convivas. E as restrições são sempre quanto ao estado das vias asfálticas, as quais, quando não são esboroadas pela ação invencível do tempo e pela consequente falta de manutenção adequada, são sulcadas pela Corsan que não fecha imediatamente os regos que abre, cujos remendos ficam sempre piores que o status quo ante. Mas, é próprio do ser humano atentar mais para os aspectos negativos do que ouvimos a nosso respeito.
A Psicologia trata dessas coisas. Chama-se “viés da negatividade” o fenômeno que busca explicar a tendência universal das emoções negativas nos afetarem com mais força do que as positivas. Há um lado positivo na negatividade que é nos preparar para o pior, mantendo-nos seguros em situações extremas, como convinha evolutivamente. Mas, o viés da negatividade pode se mostrar inútil no dia a dia, pois distorce nossa visão de mundo e como reagimos a ele. Pode ser tão tóxico quanto a positividade e otimismo exagerados.
Zanatta apenas deixou transbordar o viés de negatividade na tribuna da Câmara, penso.
O prefeito precisa ver o mundo como eu vejo: uma dança dos artistas. Gustavo dança e os jurados julgam seu desempenho. Como no “domingão”, parte do júri é artístico e parte técnico. E tem as notas do público.
O júri artístico é aquele que nem sempre entende de dança, mas procura sempre ser adorável e simpático com o público e com os dançarinos, dando-lhes notas altas, recebendo afagos em reciprocidade. Artistas, são. O júri técnico, por sua vez, julga com maior conhecimento do riscado. Avaliam a técnica dos movimentos, a criatividade, a plástica, a dedicação dos dançarinos que se desempenham de uma atividade que não é profissional. O júri técnico dá notas menores, quando é o caso, e feedbacks positivos e negativos, buscando melhorar a atuação dos bailarinos.
E o público? O público se divide entre os que admiram os artistas e lhes dão nota alta, os que tentam ser realistas e dão notas realísticas, e tem aquela parte que está ali, ligados, esperando ver os dançarinos torcerem um tornozelo ou um joelho. E os últimos, os que assistem à dança dos famosos na expectativa de verem, durante manobra mais ousada, a bunda da bailarina.
A vida é uma grande dança dos famosos.