A Arte do Possível

Quando os gregos criaram a palavra “política”, queriam definir a atividade dos cidadãos que se ocupavam dos assuntos da polis, a cidade-estado, votando ou sendo votados, obrigatoriamente. A democracia estava em dever escolher ou ser escolhido, não na opção de os serem.

Aristóteles, bom de filosofia, procurou rebuscar a definição, considerando que a moral e a ética deveriam estar presentes nas atividades estatais, posto que um estado virtuoso que só poderia existir se os cidadãos que o compõem forem éticos: “política é uma ciência cujo objetivo é a busca da felicidade humana.”

Foi Nicolau Maquiavel quem, séculos mais tarde, jogou uma cuba de gelo na abstração aristotélica ao perceber que nem sempre – ou quase nunca – as coisas são como deveriam ser: em política, os fins justificam os meios. Nos estertores do século 19, entretanto, veio o alemão Otto Von Bismarck a nos dizer que “a política não é uma ciência exata, mas uma arte: a arte do possível.” Bismark quer nos ensinar, por experiência, que fazer política é um eterno sambar-na-mola, equilibrar-se em corda bamba, dançar conforme a música, tanto para contentar os cidadãos quanto aos arranjos políticos.

A mais magistral definição de política, no más, é brasileira. Matreira, cínica, simples e didática, a frase do banqueiro e político mineiro Magalhães Pinto traduz toda a essência da discussão histórico-filosófica, demonstrando que ideólogos, ideologias e operadores da política são tão vaporosamente leves que admitem as mais variadas formas (de pensar, de agir) ao arbítrio dos ares. “A política é como nuvem: você olha, e ela está de um jeito; você olha de novo, e ela já mudou.” O insight genial de Magalhães Pinto afasta a necessidade de se justificar repentinas conversões político-ideológico-partidárias como se fossem inelutáveis, pois a política é como o Espírito Santo: sopra onde quer, a despeito dos ideais do político, que só faz capitular ao paranormal desígnio. A proposição de Magalhães Pinto não teoriza; é demonstrada na prática diária dos que se ocupam com os assuntos da polis.

Há alguns meses, a política montenegrense se via como um imenso cumulonimbus, aquelas ameaçadoras nuvens escuras. Em um momento, se olhava e o prefeito tinha imprecisos adversários para a corrida eleitoral de outubro. Olhava-se de novo, e um potencial opositor, o ex-prefeito Percival de Oliveira, estava a oferecer o partido Republicanos a Gustavo Zanatta, afastando-se da disputa. Olhava-se de novo, e Talis Ferreira se levantava como candidato à prefeitura pelo PP, seu partido de então. Tornava-se a olhar, e o progressistas aderia ao governo, dificultando as pretensões de Ferreira. Mais uma mirada, e Paulo Azeredo ressurge como pré-candidato pelo PDT, abanando uma certidão negativa de condenação criminal eleitoral emitida pelo TSE. Desviava-se os olhos, e Heitor Lermen passeava pela cidade a “se procurar”, como escreveu em uma rede social. Foi fotografado, depois, em uma reunião do PT, distante do Rosa, o paraíso de Imbituba. Olhou-se de novo, e o PP local abriu mão de uma vaga garantida na Câmara ao repudiar Talis Ferreira, a quem não apoiariam para prefeito na eleição do presente ano e nem daqui a quatro anos. E outra olhada, e lá estava Tális, assinando ficha com o recém-fundado Podemos local, ignorando apelos telefônicos de próceres do PP estadual. Talis intuiu que é melhor concorrer à Câmara agora e costurar apoio de Zanatta para a eleição de 2028 quando, então, será mais seguro concorrer a prefeito.

Talis acomodou-se à Bismarck, e desempenha-se muito bem na arte do possível.

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