Quando se atribui a culpa do tráfico de escravos da África para o Brasil aos africanos, se faz unicamente com o intuito de acabar com as políticas de igualdade racial. Do ponto de vista histórico, sabe-se que o preço de um escravo, da África para cá, valorizava cerca de 2.000%, e quem ganhava não era o negro e, sim, o comerciante português, que fazia verdadeiras fortunas com essa atividade econômica.
Quando Machado de Assis morreu, um de seus amigos escreveu um artigo referindo-se a ele como mulato. O editor, ao analisar o texto, sugeriu que suprimisse tal expressão, dizendo que Machado era branco e se tomava como tal. A verdade é que, no século XIX, alguns negros circularam nos meios sociais da elite brasileira. No entanto, tal concessão não implicava na percepção de que todos eram iguais. As ideias raciais que circulavam aqui não eram muito diferentes das da Europa. Todavia, o homem rico brasileiro da época não podia olhar para trás e afirmar com certeza que estava totalmente livre da presença do sangue africano. Era um dos motivos prováveis que tornava possível que alguns negros acendessem socialmente.
A aceitação de Machado de Assis, negro, nos meios intelectuais da época, era uma pequena concessão. A sociedade era predominantemente agrária e a riqueza era baseada na posse de imensas propriedades rurais. Por isso, o negro não rivalizava ou ameaçava o domínio branco, pois o negro não tinha acesso à terra. Assim, formou-se, na primeira metade do século XX, a ideia de que não existia racismo no Brasil, era a chamada “democracia racial”.
No entanto, segundo a historiadora Emília Viotti da Costa (de quem eu tiro a maioria das informações que estão aqui) mostra que, no censo de 1950, a sociedade brasileira apresentava fortes traços de racismo, já que, nas escolas primárias, apenas 14% dos estudantes eram negros; nas instituições de ensino secundárias, 5%, e, na educação superior, pouco mais de 2%!
Assim, por longo tempo, se dizia que o desenvolvimento e a modernização do país diminuiriam a desigualdade social por si só e as diferenças raciais desapareceriam. No entanto, com a Ditadura Militar, a concentração de renda cresceu absurdamente e, com a redemocratização, foi necessária a elaboração de leis que combatessem a desigualdade. Neste sentido, a Constituição de 1988 surgiu com este propósito e buscou a universalização de políticas sociais, como a gratuidade e obrigatoriedade do Ensino Fundamental, a criação do Sistema Único de Saúde e a Previdência Rural. Estas políticas foram importantes, mas não alteraram significativamente o fato de que a cor da pele continuava sendo um fator determinante para a ascensão social no Brasil. É por isso que o movimento negro, em 1995, com a Marcha Zumbi dos Palmares contra o Racismo e Pela Vida, encaminhou um documento para a Presidência da República solicitando ações afirmativas para o acesso a cursos profissionalizantes e universidades.
Segundo o IBGE, 54,9% da população brasileira é negra (soma de pretos e pardos). Enquanto esta mesma porcentagem não estiver representada nas universidades, o Brasil será um país racista!
Rodrigo Dias
Professor