Estávamos num cemitério. A lembrança longínqua era de um portão que se abria numa leve lombada de uma cidadezinha simpática do interior. Domingo radiante de sol a aquecer os primeiros dias do outono, anunciando um inverno sombrio e frio. Ventinho gelado! Ficamos à frente, enquanto alguns desceram para visitar os túmulos de parentes, quando o patriarca da família lançou o questionamento: “Quem é o homem mais feliz do planeta?” Jovens ainda, respondemos apressadamente: “quem tem mais dinheiro… viaja pelo mundo… compra o que quer… quem …” O patriarca sorriu e calado ficou.
A pergunta permaneceu. De vez em quando, surgia num sussurro. E partimos, dia após dia, na busca da resposta. Seguimos a vida normalmente, com as vicissitudes que nos fizeram chorar e em lágrimas, adormecer. Ao acordarmos, percebíamos que com a dor, uma parte imatura de nós havia sido deixada para trás. O tempo passou aceleradamente. Eram tantos afazeres que nos esquecíamos. Vivíamos entre oscilações, alegrias e tristezas, sorrisos e lágrimas. Na convivência familiar e profissional, um mar foi se abrindo e um caminho foi se formando. Nele, o amor predominava. Aos poucos, este amor passou a alimentar cada decisão tomada, cada passo dado, cada atitude; descobrimos que ao olhar para quem conosco convivia, com olhos de amor, compreensão e perdão, éramos mais felizes. Seria esta a resposta àquela pergunta?
No amor, descobrimos Jesus. E Nele, o sentido da vida terrena. Nos Ensinamentos, a compreensão e aceitação dos desígnios de nosso Pai e no entendimento que calamidades necessitam acontecer para que nos modifiquemos moral e espiritualmente, sendo esta a razão maior da existência. Vivemos num mundo essencialmente material e, se só nele nos envolvemos, nos tornamos frios e egoístas e conquistamos a solidão; no entanto, embora neste mesmo mundo e com necessidades materiais, descobrimos Jesus, e, seguindo Seus passos seremos Seus olhos, Seus ouvidos e Sua boca. Então, em nós, Jesus a nos guiar: um coração em que a “afabilidade e doçura não são fingidas, nunca se contradiz; é o mesmo diante do mundo e na intimidade; ele sabe, aliás, que, se pode enganar os homens, pelas aparências, não pode enganar a Deus. (Lázaro, Paris, 1861)
Então, depois de tantos anos, poderíamos responder? Nosso patriarca já partiu. Na lembrança, o sorriso maroto com marcas da trajetória de vida. No maroto, a razão da pergunta lançada. Nada é em vão. A resposta? Estava do outro lado do portão! A vida, presente de Deus, é a maior felicidade! Somos Amor, somos filhos de Deus, sejamos felicidade!