A rede que eu conheci na minha infância era para descansar, para balançar. Isso há muito tempo atrás. Tinha, ainda, aquela outra rede, de pescar. Prazeres que a gente alimentava durante toda a semana, até que chegasse um momento de folga.
Quanta história guardada na memória! Meu avô e meu pai teciam redes de pesca, e eu perdi a chance de aprender com eles. Mas trago comigo o desejo e o desafio de um dia me presentear com esse ofício. Reservar um tempo como os dois, com suas linhas estendidas no pátio, tramando a costura e contando causos das pescarias. Planejando as próximas. Remendando o necessário.
Muito tempo depois das redes de pesca e descanso, eu conheci outra, aquela aplicação da web cuja finalidade é relacionar pessoas, criando vínculos. As redes sociais tornaram-se populares a partir dos anos 2000. O Friendster foi o primeiro serviço a receber esse status, possibilitando transportar as amizades do mundo real para o virtual, atingindo três milhões de adeptos em poucos meses. Em 2003, foi lançado o Linkedin (focado em contatos profissionais) e, em 2004, Orkut, Flickr e Facebook. Estima-se que, atualmente, um bilhão de pessoas utilizem as redes sociais, um sétimo da população do planeta, o que significa que elas ainda têm a crescer. E muito!
Eu demorei, mas há alguns verões sucumbi à pressão de amigos reais e entrei nessa rede. O argumento derradeiro: “Até minha mãe tem Face e Instagram!” Se o mundo virtual prometia ser o elixir da juventude, eu beberia alguns goles…
Descobri que nessa rede você vai a qualquer lugar e marca algumas pessoas. Que se você não é visto, não é lembrado, mas o mundo inteiro se dá ao direito de especular um breve resumo da sua vida. Aquele release básico, claro: muita festa, viagens e sorrisos. Que seus amigos curtem, comentam, criam grupos. E você compartilha conteúdos que, muitas vezes, nem entende. Exclui pessoas próximas. Conecta-se a outras, distantes. É enaltecido e desrespeitado publicamente. Paga o preço.
Você compartilha sua vida; está exposto. Você caiu na rede.
As pessoas reparam nas suas atualizações: na sua foto nova está mais gordo; está mais sério. Desfez amizade com fulano. Deixou de comentar as postagens do beltrano. Só curte as coisas do ciclano.
Nos últimos tempos, havia muita gente me convidando para ser feliz antes do café da manhã; eu, mesmo triste, me sentia coagida a aceitar a máscara imposta. De um lado, a alegria viralizando e, de outro, a intolerância compartilhada. Extremismo demais esgota, e eu cansei. Não faço mais parte do cardume que vive preso nessa rede.
Por favor, meu peixe, não leve a mal. Esse texto não é recado, é apenas uma metáfora; a contra-isca, o repelente para que eu mesma não seja novamente fisgada.
Eu admiro quem tem força para nadar contra as correntes, mas eu preciso descansar. Nesse verão, comprei outra rede, de balanço. Para, quem sabe, envelhecer descansada, assim, bem devagar.